
O cara, com menos de 19 anos, estreou no jornalismo. Uma das estreias mais precoces de nossa história literária.
Em 1858, Machado de Assis escrevia uma série de artigos críticos sob o título “O passado, o presente e o futuro da literatura”!
Quando eu tinha 19 anos já me metia a ler Hegel, era maçom e rosa-cruz, fazia umas poesias que guardo, lia sobre um monte de outras coisas. Mas, não teria coragem de escrever, criticamente, sobre literatura.
E, de uma forma equilibrada, sem extremos – sem necessidade de marcar posições como alguns ‘caios’ – “tudo isso com aquelas meias-tintas tão necessárias aos melhores efeitos da pintura”.
Escolhia o caminho do meio, sua cor predileta, as meias-tintas, os tons entre a luz e a sombra. Nada de tonalidades excessivas, ardor ou violência.
“Antes de começarmos o nosso trabalho, ouve, amiga minha, alguns conselhos de quem te preza e não te quer ver enxovalhada.
Não te envolvas em polêmicas de nenhum gênero, nem políticas, nem literárias, nem quaisquer outras; de outro modo verás que passas de honrada a desonesta, de modesta a pretensiosa, e, em um abrir e fechar de olhos, perdes o que tinhas e o que eu te fiz ganhar.
O pugilato das ideias é muito pior que o das ruas; tu és franzina; retrai-te na luta e fecha-te no círculo dos teus deveres, quando couber a tua vez de escrever crônicas.
Sê entusiasta para o gênio, cordial para o talento, desdenhosa para a nulidade, justiceira sempre, tudo isso com aquelas meias-tintas tão necessárias aos melhores efeitos da pintura.
Comenta os fatos com reserva, louva ou censura como te ditar a consciência, sem cair na exageração dos extremos.
E assim viverás honrada e feliz.” (1862, aos 23 anos)
Ele tinha horror ao dogmatismo e à superficialidade, dois extremos.
Numa crítica sobre peças teatrais de Joaquim Manuel de Macedo (autor de “Moreninha”), recomendava que o autor fizesse um profundo estudo das paixões, já “que nos seus dramas se exprimem mais pela energia exterior, do que pela força íntima. É preciso não confundir o sentimento e o vocabulário.”
“A minha alma, talvez, não é tão pura,
Como era pura nos primeiros dias;
Eu sei; tive choradas agonias
De que conservo alguma nódoa escura,
Talvez. Apenas à manhã da vida
Abri meus olhos virgens e minha alma.
Nunca mais respirarei a paz e a calma,
E me perdi na porfiosa lida.
Não sei que fogo interno me impelia
À conquista da luz, do amor, do gozo,
Não sei que movimento imperioso
De um desusado ardor minha alma enchia.” (trecho de Versos a Corina)