
Por que alguns fazem um discurso de “guerra”?
“A guerra, principalmente a civil, leva todas as nações, até mesmo aquelas declaradamente mais democráticas, a se tornarem autoritárias e totalitárias.” (John Dewey)
“A natureza da guerra não consiste nos combates em si, mas numa reconhecida disposição neste sentido, durante todo o tempo em que não houver garantia do contrário.” (Thomas Hobbes)
Há alucinados que desejam um Estado autoritário, gritando que estamos sob ameaça de uma conspiração comunista! Que coisa mais fora de época. Não existe mais comunismo – só alguns estertores. Há regimes ditatoriais, à esquerda e à direita, como talvez sonhem para o Brasil.
Excessos não se corrigem com um regime de Exceção.
Abusos, descontroles e corrupção se corrigem com punição, equilíbrio, educação e prosperidade. Não é desmantelando as instituições, mas fortalecendo-as.
Com o fortalecimento das polícias, ao invés de se armar a população e as milícias.
Não é com a tentativa de cooptação das Forças Armadas, mas com o reconhecimento do seu papel constitucional.
Abuso de poder em qualquer esfera deve nos ensinar a melhorar as regras de nomeação e a cobrar atitudes das silentes instâncias.
Por que o Procurador Geral e os ministros do STF devem ser indicados pelo presidente? Por que o Senado é subserviente? Por que presidencialismo, que é uma tentação para golpistas? Por que o Congresso e o Judiciário protegem seus pares?
Mudem-se as leis: “Nenhuma sociedade pode fazer uma constituição perpétua, ou sequer uma lei perpétua”, dizia Thomas Jefferson.
Acham que todo déspota é esclarecido só por alegar que quer o bem da nação?
“Revoltarmo-nos contra a tirania é obedecer a Deus“: novamente Jefferson.
Por que a incompetência e a mentira não são punidas?
Um dos maiores problemas desse país é a impunidade. Quem se mete a punir termina por ser punido.
“Nada é criado sem os homens, nada dura sem as instituições.” (Jean Monnet)
Samuel Huntington, o paradigma de cientista político a serviço do poder, uma espécie de ‘Geheimrat‘ – assessor secreto do soberano -, envenenava o governo americano ao falar sobre a “crise da democracia”:
“Democracia demais, paradoxalmente, havia deixado doente a democracia americana, levando a um destempero democrático.”
Isso era um manifesto antirrepublicano e antidemocrático, ao pregar a defesa da soberania ante as “ameaças” de todas as forças e movimentos sociais.
Para ele, essa ideia de “governo do Povo, pelo Povo e para o Povo”, como dissera Lincoln em Gettysburg, era um risco!
A democracia, dizia Huntington em 1975, deve ser temperada com a autoridade, e vários segmentos da população devem ser impedidos de participar muito ativamente da vida política ou de exigir demais do Estado.
Pregava uma aristocracia, uma semidemocracia, discricionária.
Muitos candidatos autoritários seguem sua cartilha.
“(…) Os impérios desmoronam. Os chefes de gangues
Circulam por aí como estadistas. Os povos
Já nem podem ser vistos sob tanto armamentos.
De modo que o futuro está na escuridão e as forças do direito são fracas. (…) (Bertolt Brecht)