
Walter Benjamin (1892-1940), como muitos à frente de seu tempo, só obteve fama após a morte.
Um vida atormentada e sem reconhecimento, como Kafka. Só a posteridade os ergueria à fama.
“Como tudo seria diferente se vencessem na vida aqueles que venceram na morte.” (Cícero)
Para os que se antecipam, a “história se passa como uma pista de corrida onde alguns competidores corressem tão rápido que simplesmente desapareceriam do campo de visão do espectador”, comparava Hannah Arendt.
“A fama póstuma”, continua Arendt, “parece ser o quinhão dos inclassificáveis, isto é, daqueles cuja obra não se adequa à ordem existente, nem inaugura um novo gênero que, ele mesmo, constitua uma futura classificação.”
O que Jacques Rivière falou sobre Proust e sua inadaptação para a vida prática vale para Walter Benjamin: “morreu da mesma inexperiência que lhe permitiu escrever suas obras. Morreu de ignorância … porque não sabia como acender um fósforo ou abrir uma janela.”
Benjamin se imaginava “um monte de escombros”. Era totalmente incapaz de mudar as condições de sua vida, mesmo quando estavam prestes a esmagá-lo.
Há muitos desajeitados por aí, sem prumo para a vida. Não vou falar de “sucesso”, só de não dar errado.
Benjamin terminou por suicidar-se, apavorado com o fato de ser judeu num ambiente que se fechava: a queda da França, o pacto Hitler-Stalin, a ameaça à Inglaterra, a falta de recursos e apoios …
Até a própria morte foi precipitada – sem uma avaliação adequada: enquanto tentava fugir para a Espanha, achou que seria entregue à Gestapo; no dia seguinte, porém, as autoridades espanholas permitiram a passagem do grupo no qual estava.
Para ele, o “anjo da história” não avança dialeticamente para o futuro, mas tem seu rosto “voltado para o passado”. Como no Brasil.
“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus.
Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente.
Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas.
O anjo da história deve ter esse aspecto.
Seu rosto está dirigido para o passado.
Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés.
Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos.
Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las.
Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu.
Essa tempestade é o que chamamos progresso.” (Benjamin)