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Sinceramente, fico atônito ao ver personagens conhecidas que exploram a credulidade dos desesperados – emocional, econômica ou socialmente – tentando extrair-lhes seus sustentos em nome de Cristo! Isso me parece abusivo, mas permitimos em nome da liberdade de religião.
Claro que deve haver a opção por vertentes religiosas. Mas, espoliação, não! Explorar a desesperança, em nome de Deus, é o maior crime!
Deixar esses estelionatários da fé – que sequer pagam impostos e têm passaporte diplomático – agindo à vontade é um risco.
Sabem de quem estou falando.
A historinha que trago é uma das coletadas por Carmem Dolores, sobre as Lendas Brasileiras.
HISTÓRIA DO JESUS MENDIGO
“Eram dois homens que viviam naquela cidade, um pobre e o outro rico, mas ambos muito religiosos e tementes a Deus.
Ora, Jesus querendo experimentar qual deles o amava verdadeiramente com maior veneração, anunciou-lhes que em certo dia iria jantar em companhia de cada um.
O homem rico mandou preparar mesas lautas, acepipes delicados e abundantes, frutas cheirosas e raras, e as festas começaram a ser participadas com uma solenidade de espantar.
O pobre, que apenas possuía uma galinha, mandou matá-la e assá-la no espeto. Preparou modestamente a sua mesa e esperou Cristo.
À tarde apresentou-se um mendigo à porta do homem rico, pedindo esmola, e o dono da casa despediu-o brutalmente, dizendo:
— Espero hoje o Nosso Senhor Jesus Cristo para jantar comigo, e não quero desmanchar minha mesa.
O mendigo voltou ainda pela segunda e pela terceira vez, com outros trajes e feições, e foi sempre despedido do mesmo modo grosseiro e mau.
Então apareceu ele à porta do homem pobre, bateu e pediu uma esmolinha pelo amor de Deus, que estava a morrer de fome. Ficou o pobre sem saber o que fazer, e a mulher lembrou-lhe por fim que poderiam tirar uma asa da galinha e dá-la ao mendigo, sem que Cristo reparasse naquela falta, pois a galinha seria colocada no prato de modo que o lado da asa cortada se achasse virado para baixo. Assim fizeram.
Eis porém que pouco depois surge outro mendigo pedindo outra esmola, pois morria de fome. Novas dúvidas e hesitações, novos cálculos e nova asa de galinha cortada para não deixar o pobre ir sem nada para comer.
Mas aparece o terceiro mendigo e a perplexidade dessa vez cresce de um modo terrível. Como haviam eles de fazer, se já não havia mais asas a cortar?
O marido e a mulher puseram-se a coçar desanimadamente a cabeça, enquanto o mendigo gemia, sentado do lado de fora da porta, mas nem um nem outro tinham coragem de enxotar o pobre sem nada lhe dar. Resolveram finalmente cortar uma coxa da galinha, e levaram-na com toda a delicadeza. Imediatamente o pobre levantou-se da soleira, transformado e belo; caíram no chão os andrajos que lhe cobriam o corpo e a mais fina túnica de lã, alva como o leite, envolveu-lhes as formas.
Era o próprio Cristo, que penetrou no humilde lar, chegou-se à mesa do homem pobre, ergueu a mão sobre a galinha. No mesmo instante reapareceram no seu lugar as duas asas e a coxa cortadas, e delas voou uma bonita pomba branca, que foi pairar sobre a cabeça dos donos da casa, atônitos e reverentes.
Então Jesus lhes disse:
— Cumpristes a minha lei, que ordena a caridade para com os pobres, e por isso sereis felizes, na terra e no céu, como o quer a minha vontade.
Assim sucedeu. Eles foram venturosos em vida e Deus os levou depois da morte para o paraíso dos justos e caridosos.
O homem rico foi para o inferno.”