
Thomas Kuhn (1922-1996) dizia que quando surge um novo paradigma, substituindo um antigo, ocorre uma revolução científica. Num mesmo campo do saber, isto acontece de forma dialética:
fase pré-paradigmática > ciência normal > crise > revolução > nova ciência normal > nova crise > nova revolução > …
Somos ‘contemporâneos’ de três revoluções científicas, em campos, por ora, distintos:
- Na primeira metade do século passado, a guiada pela física, basicamente a partir da relatividade e teoria quântica: energia nuclear, transistores, naves espaciais, lasers, radar …
- Na segunda metade, tivemos a revolução desencadeada pela tecnologia da informação: microchip, computador, internet, redes sociais, IA …
- Neste milênio, amadureceram as ciências da vida, com ênfase no código genético.
Essas três ondas, embora em estágios diferentes, estão bem avançadas.
Mas, suas conquistas são sempre insuficientes para a compreensão do mundo.
Ao contrário do que se pensa, o mundo não encolhe, se alarga ainda mais.
“Os limites do meu conhecimento são os limites do meu mundo.” (Wittgenstein)
Vejamos a física. Pedro Ferreira, professor de astrofísica em Oxford, fala que “a física como a conhecemos é elegante e primorosamente precisa. Mas, não diz quase nada sobre os enigmas mais profundos do Universo. Há um abismo cósmico.”
Ele trabalha na origem da estrutura em grande escala no universo, na teoria geral da relatividade e na natureza da matéria escura e da energia escura. Seu livro mais recente, A Teoria Perfeita, é uma biografia da Relatividade Geral.
Ele ficou encantado quando, em 2012, houve a descoberta do bóson de Higgs. Essa era uma partícula fundamental para completar o Modelo Padrão da física de partículas, o roteiro para o mundo subatômico; explicaria por que os léptons, outra partícula fundamental, têm massa.
Depois, em 2016, cientistas detectaram a primeira evidência da existência de ondas gravitacionais – ondulações no espaço e no tempo, previstas 100 anos antes por Einstein.
“Há um abismo tremendo, até mesmo cósmico, entre a física que conhecemos e amamos e alguns dos fenômenos que observamos, mas simplesmente não podemos decifrar.” (Pedro Ferreira)
Surgiram ideias (pré-paradigmas?) que balançam todo o arcabouço teórico: matéria escura, energia escura, cordas cósmicas, universos múltiplos … um inferno.
Para isso, segue o conselho de Feynman: “Finja que há experimentos e calcule. Nesse campo, não somos empurrados por experimentos, mas puxados pela imaginação.”