
Em 1988, Itamar Assumpção prenunciava um trágico destino para o Pantanal.
No ano passado, o Inpe registrou mais de 20 mil focos de incêndio no bioma; mais que o dobro do ano anterior. O pico foi em outubro, com quase 3 mil ocorrências.
As causas estão indefinidas.
Alguns disseram que os focos começaram naturalmente, por causa de raios. Ou, que os incêndios podem ter sido causados por chamas que reacenderam em áreas que já haviam sido queimadas. Seria o “fogo de turfa”, ou “fogo subterrâneo”, que queima sem que as pessoas percebam.
Tem, também as explicações dadas por Evaristo de Miranda, o “guru ambiental do governo”, que criou a tese do “boi bombeiro”: o gado ao comer o capim na estação chuvosa, diminuía a quantidade de matéria orgânica capaz de pegar fogo na seca.
O estranho, nessa tese – logo encampada pelo governo – é que se menos gado é igual a mais fogo, então o aumento das queimadas seria explicada pela diminuição do rebanho. Mas, ao contrário, desde 2003, o rebanho aumentou em cerca de 9 milhões de cabeças, enquanto os focos de queimadas quase triplicaram!
Este senhor, conhecido por pautar o agronegócio e o governo com slides de Power Point, se vale de “estatísticas criativas e dados enviesados por uma narrativa ideológica que distorce a realidade ambiental brasileira”, nas palavras do promotor Marcelo Vacchiano.
“Levantamentos na região apontaram que os incêndios no Pantanal, entre julho e outubro, foram causados pelo homem. Não havia registro de raios que poderiam justificar um fogo natural no bioma, porque não houve chuva entre junho e setembro.
O fogo se propagou rapidamente principalmente por causa da seca extrema na região neste ano — a pior em quase cinco décadas – e pela demora do poder público em intervir para controlar os incêndios.” (Vinícius Lemos, BBC Brasil)
Mais de 30% do Pantanal como um todo foi queimado – uma perda irreparável para a biodiversidade.
ADEUS PANTANAL (Itamar Assumpção)
Eu nasci e vivo no Brasil, então
Eu fui à Corumbá pra no Pantanal olhar a bicharada
E fui pra ver, não vi, que decepção senti
Vi quase nadaEu não vi bem-te-vi, beija-flor nem juriti, a passarada
Eu não vi jaboti, não vi coral, sucuri
Vi quase nadaEu não vi o quati, não vi anta nem sagüi, onça pintada
Eu não vi o saci, não vi o grilo cri-cri
Vi quase nadaEu fui à Corumbá pra no Pantanal olhar a bicharada
Eu fui pra ver, não vi, que decepção senti
Vi quase nadaEu não vi lambari, nem pintado nem mandi, a peixarada
Paca também não vi, pacu, índia guarani
Vi quase nadaEu fui à Corumbá pra no Pantanal olhar…
Vi quase nadaEu não vi sabiá, nem macaco nem preá, nem revoada
Eu não vi gurundi, nem ararara nem guaxi
Vi quaseEu não vi o tiê, chué uiruuté, não vi pescada
Eu não via xuri, não vi o uiriri, vi quase nada