O que é ser de extrema direita?
Talvez seja adotar uma política antissistema para os que não acreditam que o sistema possa de fato mudar. A ideia é que tudo permaneça com está, mas que dê ganhos maiores para os que se sentem deixados de lado. Não todos, claro. Só os merecedores.
“Algo deve mudar para que tudo continue como está” (Lampedusa)
As pessoas que alimentam o autoritarismo tendem a acreditar naquilo que lhes parece mais familiar, que é compatível com outras crenças, que confirma sua identidade.
Crenças. Não é apenas um fenômeno pessoal. É também um aspecto estatístico: o volume de desinformação cria um ecossistema que se reforça mutuamente, alimentando-as.
Os algoritmos, nas redes sociais, as reforçam.
A principal forma de atuação dos extremistas de direita é a negação.
Essa negação é, na verdade, segundo Freud, uma atitude de “renegação”, uma negação inconsciente que cria uma demanda que será atendida pela negação consciente fornecida pelos “mercadores da dúvida”.
A dúvida passa a ser a crença.
Alimentam um “espírito das Cruzadas”, à busca de “inimigos” – os diferentes.
Ideologias.
Segundo Althusser, a ideologia seria uma “relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência”. Isso conduz as pessoas a uma fuga cada vez mais intensa em direção ao imaginário.
A democracia é muito vulnerável, por ser aberta. Nalgumas condições qualquer sociedade pode se voltar contra a democracia, já dizia Platão. Ele achava que a democracia, inelutavelmente, seria uma escala para a tirania. Ele apostava mais nas ‘fraquezas’ humanas.
O maior perigo para a democracia continua sendo a corrupção.
A corrupção se blinda, inclusive nas leis. Estamos vendo.
Não podemos falar de autoritarismo (totalitarismo) sem mencionar Hannah Arendt:
“Uma personalidade autoritária é um indivíduo radicalmente solitário que sem qualquer outro laço social com família, amigos, camaradas ou mesmo conhecidos, deriva seu senso de ter um lugar no mundo somente de seu pertencimento a um movimento, de sua afiliação a um partido.”
Theodor Adorno, apoiando-se em Freud, tentou encontrar a fonte da personalidade autoritária no início da infância, e talvez mesmo na homossexualidade reprimida.
Karen Stenner, uma economista comportamental, traz um argumento interessante: haveria cerca de um terço da população de qualquer país que possui o que ela chama de “predisposição autoritária”.
Coincidentemente, esse é o percentual renitente que apoia o governo atual.
Essa “predisposição autoritária”, que favorece a hegemonia da ‘lei e da ordem’, pode ocorrer nos dois extremos, claro.
O fato é que o autoritarismo atrai as pessoas que não suportam a complexidade.
O autoritarista, é aquele sujeito que é antiplurarista, que não tolera a diversidade.
Ele suspeita de pessoas com ideias diferentes e é alérgico a debates.
O autoritarismo é um estado mental, não é um conjunto de ideias.
“César tinha escultores para criar múltiplas versões de sua imagem.
Nenhum autoritarismo pode ter sucesso sem o equivalente moderno: os escritores, intelectuais, panfletários, blogueiros, assessores de imprensa, produtores de TV e criadores de memes que vendem sua imagem para o público.
Precisam, também, de pessoas para promover tumultos ou iniciar golpes.” (Anne Applebaum)
Aos que têm alguma percepção do que nos cerca há um claro alerta de que um golpe autoritário está sendo tramado.
Há um golpe no ar!
Olá Dorgival,
Estou lendo o Crepúsculo da Democracia e registrei minhas primeiras impressões de leitura no meu blog. O texto instigante de Anne Applebaum me levou a outras conclusões, mais críticas ao livro-reportagem da autora, cuja argumentação julgo ser superficial e abertamente tendenciosa. Caso queira conferir, segue o link: https://umhistoriador.wordpress.com/2021/05/16/impressoes-de-leitura-de-o-crepusculo-da-democracia-de-anne-applebaum/
Um abraço,
Roger
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