
O conceito de genocídio surgiu em 1944, a partir de um livro publicado por um jurista polonês, Raphael Lemkin.
Ele se referia à técnica de ocupação nazista que destruía os alicerces essenciais de grupos nacionais ou étnicos, para aniquilá-los física e/ou culturalmente.
Depois, Robert Jaulin, antropólogo, definiu mais especificamente o etnocídio.
Ecocídio, que faz referência a destruições em larga escala do meio ambiente ou à exploração alucinante de recursos não renováveis, virou política de Estado para alguns governos.
Por trás desses crimes há sempre o objetivo da “conquista”, cujo botim é a obtenção de riquezas acumuladas ou preservadas.
Tenho escrito aqui sobre as rebeliões, revoltas e revoluções já ocorridas neste Brasil para mostrar que o brasileiro não é inerte, pacífico na medula e tolo além do necessário. Este não é um país alienado, de paz e amor, apesar de aparente calmaria.
É um país normal. O que não é normal é que já banalizou as mortes – violentas, trânsito e da pandemia.
Essa história de que somos “tranquilos”, amáveis e que vivemos numa terra abençoada e protegida por Deus é uma invencionice das elites para frear alguns ímpetos.
O Brasil, como já falei, não foi descoberto, foi inventado. E começou a ser “construído sobre um cemitério”, diz Ailton Krenak.
Nosso passado não foi idílico; foi sangrento e habilmente costurado para a perpetuação da exclusão – ou do extermínio, no caso dos nossos índios.
Parece estar em curso uma “ofensiva final” contra as comunidades indígenas.
Só em 2019, coincidentemente o início de um novo governo, oito lideranças indígenas foram assassinadas:
- Francisco de Souza Pereira (povo tucano)
- Willames Machado Alencar (povo tuiuca)
- Emyra (povo wajãpi)
- Carlos Alberto Oliveira (povo apurinã)
- Paulo Paulino (“o guardião da floresta” – povo tenetehara-guajajara)
- Firmino Praxede (cacique povo tenetehara-guajajara )
- Raimundo Benício (povo tenetehara-guajajara)
- Erisvan Soares (povo tenetehara-guajajara)
Não parou por aí. A lista segue.
O extermínio dos índios se deveu, basicamente, às doenças epidêmicas, que junto com o fedor, foram trazidas pelos portugueses. Uma guerra biológica, antes de tudo. Que é reiniciada agora, com a pandemia do Covid-19.
“O branco quer imprimir sua marca sobre tudo, criando uma única paisagem.
Ora, se virar única, então não é paisagem.
A natureza da paisagem é a pluralidade, a diversidade, é a sucessão.
Quando nós acabamos com todas as paisagens da Terra, nós entramos em coma.” (Ailton Krenak)
Durante o processo de elaboração da Constituição de 1988, Ailton Krenak falou, no plenário do Congresso Constituinte, em nome da União dos Povos Indígenas:
“O povo indígena tem um jeito de pensar, tem um jeito de viver, tem condições fundamentais para sua existência e para a manifestação de sua tradição, sua vida, sua cultura, que não coloca em risco – e nunca colocou – a existência nem dos animais que vivem ao redor das áreas indígenas, nem de outros seres humanos.”