A história é o que nos contam

Heinrich Schliemann, German archaeologist - Stock Image - H419/0431 -  Science Photo Library
(Heinrich Schliemann, 1822-1890)

O passado é incerto, não só no Brasil. O presente é confuso, multifacetado, caleidoscópico, permite mil leituras e nenhuma completamente verdadeira, porque sempre incompleta. Ninguém é onisciente. E é este o presente que estará, amanhã, nos livros de história.

Então, conformemo-nos com nossas parcialidades. Afinal, somos partes.

Esse é o drama da verdade. A “verdade histórica” é um patchwork que queremos ver monocromaticamente.

O futuro, então, é só um potencial de decepções, enganos e poucos acertos.

O problema é que defendemos nossas verdades como se elas fossem o que dizem ser. Não sabemos.

História sem humildade é presunção.

Vejamos o caso de Heinrich Schliemann, o “descobridor de Troia”.

Sempre me encantei com sua obstinada busca pelos sítios (históricos/mitológicos) citados por Homero.

Ao ler sua autobiografia, fiquei tocado por sua dura trajetória de vida e dedicação ao sonho de infância: seguir os passos homéricos ouvidos, de seu pai e que, segundo ele: As primeiras impressões que uma criança capta, ficam com ela durante toda a sua vida.”

Quando ele tinha oito anos, seu pai lhe contou a história da Ilíada, o amor proibido entre Helena, esposa do rei de Esparta, e Paris, filho de Príamo de Tróia, e como sua fuga resultou em uma guerra que destruiu uma civilização.

A Antiguidade Clássica era o sonho de toda uma vida.

Filho de uma família de pastores, com oito irmãos, ele se formou comerciante, devido à impossibilidade de uma educação acadêmica.

Ele ingressou, aos 14 anos, como aprendiz numa loja de mantimentos.

“Das cinco horas da manhã, até as onze horas da noite, ficava na loja e não tinha nenhum momento livre para estudar.” (Heinrich Schliemann)

Há uma sequência de fatos na sua história: inexpressividade em trabalhos burocráticos, um naufrágio, viver de esmolas … que não lhe davam possibilidades de avançar no seu projeto de estudos – a antiguidade.

“Nada estimula tanto o estudo do que a miséria e a perspectiva segura de livrar-se da mesma através do esforço no trabalho.” (Schliemann)

Empenhou-se, então, em aprender línguas: inglês, francês, holandês, espanhol, italiano, português, russo, sueco, polonês, árabe, latim e, finalmente, grego.

Ao ser indicado para uma representação na Rússia, abriu seu próprio negócio e enriqueceu.

Ora, durante séculos se procurara a legendária Troia, sem que alguém conseguisse provar que o épico sobre a guerra entre gregos e troianos tivesse fundamento histórico.

Até o ano 1871: sob o monte Hisarlik, no sudoeste da Turquia, Schliemann, então com 49 anos, encontrou os restos da cidade também denominada Ilion – de onde deriva o nome Ilíada.

Contudo, Heinrich Schliemann não foi o primeiro a acreditar que se encontrasse exatamente ali a cidade descrita no épico do poeta grego. Antes dele, o inglês Frank Calvert já escavara na região.

Mas, ele nunca mencionou Calvert. Por que?

Por que queremos ser únicos, heróis, pioneiros?

Ausgrabungsstätte von Troja
(Sítio arqueológico em Troia, hoje na Turquia)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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