
Esclarecendo: lembrar a naturalidade da morte não significa encara-la como banalidade, como autoridades têm feito.
A morte “natural” é normal. Aquela provocada por descaso é crime.
Mas, e o cuidado extremo, que procura prolongar a vida quando esta – dignamente – já se foi? Quando paciente e médico correm atrás de uma ilusão?
Devemos, mesmo, permitir que nossos destinos sejam controlados pelos imperativos da medicina, da tecnologia e de estranhos?
Há um ponto em que os procedimentos médicos aumentam os males e negam o conforto do amor tépido dos familiares.
Certos exageros não seriam um sacrifício no altar da medicina; vítimas de nossa recusa em aceitar a inexorabilidade do ciclo da vida?
A morte deve continuar como uma experiência médica?
Pessoalmente, não quero um prolongamento artificial de minha vida.
Atul Gawande, no seu livro “Mortais”, constata que “os avanços científicos transformaram os processos de envelhecimento e da morte em experiências médicas, em questões a serem gerenciadas por profissionais da saúde.”
Por volta de 1945, a maior parte das mortes ocorria em casa, testemunhadas publicamente, e os enterros eram feitos em lugares centrais, como as igrejas. Na década de 1980, a proporção caiu para apenas 17%.
Segundo Philippe Ariès, a morte passou de fato natural – diante do qual as comunidades se resignavam – a tabu, um interdito a ser ocultado e evitado.
“O hospital é o ‘espaço outro’ ao qual a sociedade moderna relega seus doentes tanto para se curarem quanto para morrerem, pois nele a morte acontece sem ser vista. É o espaço que esconde e higieniza a morte.” (Marise Hansen)
“Como ficará o mundo sem mim?
Ele se aperceberá?
Merecerei um piscada?
Um breve sorriso?”