
Temos valores nacionais, personalidades que se destacam apesar do ambiente inóspito. Não temos só “mitos”.
Hoje, 5 de março, é o 134º aniversário de nascimento de Villa-Lobos. Por isso é o Dia Nacional da Música Clássica.
A música popular da América Latina é consagrada mundialmente. Samba, tango, bossa-nova, salsa … Tom Jobim, Mercedes Sosa, Rubén Blades e tantos outros são reconhecidos mundo afora.
Mas, na música erudita, até mesmo peritos no assunto, se perguntados sobre compositores latino-americanos relevantes, ficariam inseguros em responder, caso não houvesse a exceção – tornada sinônimo da música do subcontinente: Heitor Villa-Lobos.
Seu trabalho é considerado o exemplo mais convincente da autodescoberta musical da América Latina.
Seu rosto já esteve estampado nas notas de 500 cruzados; seu nome batiza parques, escolas … mas, o brasileiro o conhece? O brasileiro comum vai a concertos, escuta música erudita? E nossas crianças, com quem ele tanto se importava – o futuro!?
Fábio Zanon, um incansável divulgador de sua obra, conta o seguinte episódio:
“Ao longo dos anos 1990, Sir Simon Rattle dirigiu em Londres a série ‘Towards the Millenium‘ (Rumo ao Milênio), focalizando as maiores obras do século20.
Em meio aos Schoenbergs e Stravinskys, um programa incluiu Villa-Lobos: o Choro nº 3, ‘Picapau’.
Villa-Lobos foi o único compositor latino-americano incluído na série.
O público do Royal Festival Hall ficou tão surpreso que pediu que fosse bisado antes de o concerto prosseguir.
O maestro, entusiasmado com Villa-Lobos, disse que o programava com cautela, pois exigia um estudo especial, o material de orquestra era precário, e a crítica, hostil.
Dois anos depois, a Sinfônica da BBC apresentou a ‘Floresta do Amazonas’ no mesmo teatro.
Um silêncio reverente permeou todo o concerto e explodiu ao final, numa ovação normalmente reservada aos estádios de futebol.”
Temos outros valores na música clássica, felizmente, como Carlos Gomes, que surpreendeu o próprio Verdi, que declarou: “Este jovem começa onde eu acabei”.
Mas, Carlos Gomes não era um renovador, assim como outros grandes nomes de nossa música erudita: Henrique Oswald, Camargo Guarnieri, Alexandre Levy, Francisco Braga, Alberto Nepomuceno … muitos.
Villa-Lobos incorporou ao que de mais novo ocorria na música europeia, nossos ritmos, nossa alma, inclusive a indígena.
“Villa-Lobos era um gênio.
Gênio pela riqueza prodigiosa de sua inspiração, gênio pelo seu inegável talento musical.
E agia como gênio.
O que havia de contraditório em suas reações só nos faz lembrar a genialidade.
Sua natural exuberância, uma pontinha bem nítida de exibicionismo, o eterno e irrepreensível desejo ‘d’épater le bourgeois‘ (para impressionar o burguês), enfim, o horror à mediocridade, contribuíram certamente para a sua popularidade.” (Vasco Mariz)
Para Koellreutter, “Villa-Lobos era um genial amador”. Isso era um elogio.
René Dumesnil o define como “… uma força da natureza, mas uma força maravilhosamente consciente”.
“… Villa é para mim o que Santos Dumont foi para meu tio Ulyssinho e Carlos Gomes para meu avô Ulysses: quase um semideus.
Quando me lembro que Villa-Lobos é brasileiro, sinto vontade de dar vivas: ‘Viva o Brasil! Viva Villa!” (Gilberto Freyre)