
Em 11 de novembro de 1899, os republicanos – civis, principalmente – “convenceram” o general Deodoro da Fonseca a derrubar o Império e instaurar uma República. Saiu uma ditadura militar.
Nossas crises não capricham na originalidade. Há um paralelo entre a proclamação da república e o golpe de 64: os civis usam os militares para os seus fins políticos e são “traídos” pelo gosto do poder.
O povo ficou sabendo dessa mudança de regime e ficou “bestializado”, nas palavras de Aristides Lobo. Esse “povo” não foi convidado a opinar.
O povo, assim como Dom Pedro II, foram os últimos a saber que o regime mudara. O imperador só tomou conhecimento ao acordar, no dia 16.
O Governo Provisório, ao divulgar seu primeiro decreto mostra uma certa hesitação:
“Fica proclamada provisoriamente e decretada como forma de governo da Nação brasileira – a República Federativa.”
Ora, Deodoro sempre foi monarquista.
Mas, já naquele tempo os militares se coçavam para opinar na política, num momento em que se fortaleciam como corporação – pós Guerra do “Paraguai”.
Em 1875 nascia o Regulamento Disciplinar do Exército. Uma das suas determinações era a “proibição aos militares de debaterem pela imprensa qualquer tema com seus superiores, camaradas e inferiores”.
Em 1878, o Exército lembra a seus membros que é proibido aos militares discussões pela imprensa. Em 1882, novo aviso.
Apesar disso, em 1883 o tenente-coronel Sena Madureira se mete a discutir – pela imprensa – um projeto do marquês de Paranaguá. É punido. No ano seguinte, por se negar a dar informações sobre o assunto a seus superiores, é exonerado de seus Comandos.
Essa desobediência do Sena Madureira – e sua punição – deixaram os militares ao seu lado, inclusive o marechal Deodoro. Este entendia que a proibição do regulamento se referia a discussões entre militares, não entre militares e civis!
Bom, esse assunto vem rolando e, em 1887, Deodoro acaba por ser punido e exonerado. O irmão de Deodoro, marechal Severiano da Fonseca, também é punido. Desagradável.
Um político acusa Deodoro de desvio de verbas do Exército; a Justiça o absolve.
Floriano Peixoto, esquentado, declara-se favorável a uma ditadura militar para expurgar a “podridão que vai por esse pobre país”.
O positivista Benjamin Constant, militar, divulga que o Exército está ameaçado de destruição pelos “governos criminosos”.
Floriano, no dia 14, alerta o Gabinete sobre a conspiração em curso – fala de sua lealdade ao Governo e se dispõe a combater qualquer levante.
Circulam rumores sobre uma iminente prisão de Deodoro, que estava acamado. Este se ergue e vai tomar a frente das tropas já sublevadas que cercam o prédio onde estava o Ministério. Já se decidira pela República.
No dia 17, o Imperador e sua família partem para o exílio.
Em dezembro, o representante dos EUA no Brasil escreve ao Departamento de Estado expressando suas dúvidas sobre as atitudes e pronunciamentos do Governo Provisório: pouco democráticos e republicanos; com jeitão de ditadura militar.
Em 24 de fevereiro de 1891, o Congresso Nacional vota a primeira Constituição republicana e elege Deodoro e Floriano como presidente e vice.
3 de novembro: Deodoro dissolve o Congresso e institui o estado de sítio – a oposição incomodava demais. Manda prender o almirante Wandenkolk e Quintino Bocaiúva – republicanos de primeira hora. No dia 23, renuncia após greves e revoltas.
Assume Floriano Peixoto, pouco amigo da Constituição.