A arrogância é aliada da ignorância

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A História traz lições para os que, humildemente, se abrem para entender nossos erros e acertos. Por outro lado, a arrogância é aliada da ignorância. Ou seja, mesmo os que absorvem conhecimentos podem soçobrar à soberba.

Vejamos, rapidamente, um pouco da história recente chinesa.

No século XIX, o reduzido comércio da China com o Ocidente era feito sob condições humilhantes para os “bárbaros” estrangeiros.

A China tinha, então, uma unidade política e territorial que faria inveja aos demais países. A Índia, por exemplo, era um país fracionado e descentralizado – os estrangeiros podiam negociar diretamente com os príncipes locais.

Já na China, cada transação teria que ser submetida à aprovação do governo imperial.

A autoridade do imperador era incontestável.

A China se imaginava como o império da “ordem” e da “consistência”. Orgulhava-se de sua sociedade “estática”.

A vida social não é estática, é dinâmica – um sistema adaptativo complexo, dizemos hoje.

A China ainda se imaginava como Zhongguo ( nação central), ideia nascida no século XV,  à dinastia Ming, quando ocorreu uma das mais notáveis aventuras navais de que se tem notícias, sobre o comando do almirante Zheng He e suas frotas de navios do tesouro.  

Mas, lembremos – já postado aqui – depois ela deixou de lado sua força naval e “fechou-se”.

A Inglaterra já tinha o domínio sobre a Índia, e sabia que tinha muito poder comercial e naval. Mesmo assim, procurou estabelecer um diálogo em igualdade de condições com o povo chinês.

Entre os anos 1793/94, os ingleses enviaram uma missão comercial à China, capitaneada pelo experiente diplomata Lord George Macartney.

Esta missão tinha objetivos modestos: estabelecer embaixadas reciprocas e, mais liberdade comercial ao longo da costa chinesa.

Os ingleses tinham “produtos”; mas, o que são produtos sem mercado?

Os chineses, entretanto, achavam  que quaisquer países que viessem propor algo ao “Filho do Céu” seriam países insolentes e insubordinados.

Macartney levou presentes (amostras grátis) de feitos modernos, que deixavam a China na lanterna tecnológica.

O imperador chinês respondeu ao rei Jorge III:

“Meu império transborda de todas as riquezas e de nada necessita. Não dou valor nenhum a objetos estranhos ou engenhosos e não tenho o menor uso para os produtos de vosso país.”

Não há preço se não se reconhece valor.

Não havia como usar os produtos apresentados com tecnologia que os chineses ignoravam.

É isso. Fechar os olhos ao que acontece no mundo não é ‘fechar-se’, proteger mercado. É enterrar o futuro.

Foi o que aconteceu com a China.

À falta de um produto de troca, os ingleses lançaram-se ao cultivo do ópio – na Índia, e passaram a vendê-lo em quantidades cada vez maiores aos homens de todas as classe da estagnada sociedade chinesa. Um sucesso!

Em 1830, uma alta personalidade da China condenava o alastramento do vício:

“Desde que o Império existe, jamais conheceu tamanho perigo. Este veneno debilita nosso povo, resseca nossos ossos; este verme corrói nosso coração, arruína nossas famílias.

Que o contrabando do ópio seja inscrito entre os crimes punidos com a morte!”

A repressão chinesa indignou os “comerciantes” ingleses:

“É absolutamente inconcebível que nosso comércio e nossos lucros, que interessam tanto à Grã-Bretanha como à Índia, fiquem assim à mercê de um capricho, quando bastariam para resolver a questão alguns navios de guerra ancorados ao largo da cidade e algumas descargas de morteiro.”

Isso foi feito. E, a China terminou por ser dominada pelas potências da época. Redundou na revolução comunista, com a ascensão de Mao.

É uma história complexa e interessante.

O abandono da tecnologia foi um preço muito amargo que a sociedade chinesa pagou.

O Japão, atento, modernizou-se e, na década de 1890, começa sua política expansionista.

Concluo: um país que dá as costas às inovações, ao avanço tecnológico, está – ele próprio – se algemando.

Ninguém vive isolado – nem as nações. Se não estivermos preparados seremos subordinados. Óbvio.

Não podemos nos contentar com nosso mercado interno, nem com nossa produção interna. Temos que ter relevância no mundo, ou seremos irrelevantes.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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