
O grande mal do país, desde sempre, chama-se “atraso”. Atrasos econômico, social, tecnológico e cultural.
Começamos com o pé errado: nossa colonização foi voltada à “exploração” local.
Os países que não ficaram no subdesenvolvimento tiveram um processo colonizador diferente, o de “povoamento“, que visava trazer desenvolvimento à colônia.
Após os vários ciclos exploratórios (pau-brasil, ouro, cana-de-açúcar, algodão e borracha), no início do século passado o país dependia do café! 70% da receita de exportação nacional eram geradas por essa commodity!
Atualmente, felizmente, não dependemos do café: representa apenas 5% de nossas exportações do agronegócio. Dependemos da soja, cujo complexo já chega a 42%!
Encerrado o período colonial, tornamo-nos vítima do imperialismo hegemônico da potência da vez. A maioria das nossas elites, não tinha ideia do que fosse ‘nação’. O que importava era que ‘eles’ estivessem bem. “Vamos levando” seria o lema. “Levando”, em dois sentidos.
“O imperialismo hegemônico significa a subordinação do povo por meio de hegemonia ideológica exercida pelo império sobre as elites locais, que passam a adotar políticas públicas que interessam antes ao Império que ao país assim dominado” ( Luiz Bresser Pereira)
Produtos manufaturados ocupam a 8ª colocação no Ranking nas Exportações Brasileiras: cerca de US$ 6 bilhões em 2019. A soja (mais farelo) chegaram a US$ 32 bilhões!
Parabéns para o campo. País agrícola! Tudo bem?
A pujança do agronegócio não deveria ofuscar nosso ‘atraso’ nos demais setores.
Há várias razões para o definhamento da Manufatura:
- baixo investimento em Pesquisas e Desenvolvimento;
- barreiras tarifárias ainda elevadas para importação de concorrentes estrangeiros, o que gera acomodação;
- produtos mais competitivos dominados por multinacionais, que normalmente não vêem o país como polo de inovações;
- foco do empresariado no mercado interno;
- emaranhado tributário, com favorecimentos a ‘escolhidos’;
- elevada carga tributária etc.
A indústria é o setor com a maior carga tributária no país. O setor é responsável por 18% do PIB nacional, mas responde por 33% da arrecadação de impostos federais. Nas demais esferas, a distorção continua.
Em julho do ano passado, a OCDE mostrou que a tributação das empresas chegou a 34% no Brasil, a quarta maior entre 109 países. A média global é de 20%; 14 pontos percentuais menor que a brasileira.
“Para desafogar a indústria, temos de evoluir para padrões mundiais de tributação, com impostos mais simples, transparentes, incidentes diretamente na venda, como propõe o IVA”. (Humberto Gonçalves, da TecStan)
É necessário focar no desmanche do cipoal tributário e na agregação de valor aos nossos produtos, inclusive no agronegócio. Isso requer tecnologia, gestão, design e marketing para o desenvolvimento de mercados. Acho que estamos longe, e se desviando.
CANÇÃO DO SUBDESENVOLVIDO (Carlos Lyra e Francisco de Assis, 1962)
“O Brasil é uma terra de amores,
Alcatifada de flores,
Onde a brisa fala amores,
Nas lindas tardes de abril.
Correi pras bandas do Sul,
Debaixo de um céu anil,
Encontrareis um gigante deitado:
Santa Cruz, hoje o Brasil.
Mas um dia o gigante despertou (ooaahhh!).
Deixou de ser gigante adormecido.
E dele um anão se levantou.
Era um país subdesenvolvido,
subdesenvolvido, subdesenvolvido …”