
Milagres e maravilhas (Folclore Judaico)
“Dois discípulos de facções rivais, jactavam-se dos milagres de seus respectivos rabis.
– Tome o meu rabi – começou um deles – igual a ele o mundo ainda não viu. É capaz de realizar tais maravilhas que os seus cabelos ficariam em pé, com a simples descrição dos mesmos.
Outro dia, por exemplo, trouxeram-lhe alguns convivas inesperados para o jantar. Então, a rebitzen disse-lhe: ‘Tenho apenas um peixe na panela!’.
Pensa que o rabi ficou embaraçado? Absolutamente!
‘Olhe de novo na panela’ respondeu.
Ela olhou. E o que supõe que encontrou? – Cinco peixes!
– Não venha com lorotas! – censurou o outro. – Como pode o seu rabi comparar-se ao meu?
Outro dia sentou-se para jogar cartas com a rebitzen. Ela possuía quatro damas.
O que fez o rabi, então? Com enorme indiferença, abriu as cartas sobre a mesa.
Tinha cinco reis!
– Que história da carochinha está me contando! – protestou o outro, indignado.
– Você sabe muito bem que eram apenas quatro reis.
Vou lhe dizer, então, uma coisa – retrucou o primeiro.
– Façamos um trato. Você tira um peixe da panela da rebitzen e eu tiro um rei das cartas do meu rabi!”
Quem não conhece, e reconhece, um pirangueiro, como se diz na minha terra?
“Quando cheguei em São Paulo, fui morar numa pensão que tinha nos fundos um terreno com jeitão de abandonado, cheio de pés de mamona, com um barraco no meio.
Nele, morava um velho carroceiro, seu Pepino.
Vivia sujo e maltrapilho, não tinha água corrente no barraco e nem vaso sanitário. Fazia as “necessidades” atrás dos pés de mamona.
Um dia o vi chegando todo feliz porque ganhou um par de sapatos usados já bem velhos, mas que ele achava que estavam bem bons ainda.
Perguntei sobre ele aos donos da pensão (que era num casarão bem grande na rua Lisboa, bairro de Pinheiros).
Aí fiquei sabendo que a casa da pensão era desse velho, que tinha também umas dez casas alugadas na rua dos Pinheiros e o prédio onde funcionava uma padaria, hoje é uma farmácia, na esquina da rua Teodoro Sampaio com a Henrique Schaumann.
Recebia uma nota braba por mês em aluguéis.” (Mouzar Benedito)
DEVOLVA-SE O RUBLO! (Folclore Judaico)
“Um homem rico, que fora avarento a vida inteira, adoeceu repentinamente e morreu.
Quando o seu espírito pousou no outro mundo, os demônios agarraram-no pelas mãos e pelo pés e o atiraram no Inferno.
Nessa altura, o miserável pôs-se a clamar:
– Socorro! Soltem-me! O meu lugar é no Paraíso e não no Inferno!
– Só os que praticaram o bem na terra vão ao Céu – torturam-no os ímpios.
– Mas, tenho um boa ação a meu crédito – lamentou-se o espírito.
– Qual? – perguntaram-lhe.
– Há vinte anos dei um rublo a um pobre. Juro! Verifiquem o livro de contas e o verão lançado a meu crédito.
Os gênios das trevas não sabiam como agir. Enviaram, pois, com toda a urgência, um mensageiro a Deus, a fim de consultá-lo.
– Devolvam o rublo ao miserável – ordenou o Senhor na sua ira – e mandem-no diretamente ao Inferno!”
OS ESMOLEIROS (Folclore Judaico)
“Certa vez, morreu um avarento.
Mesmo quando preparavam o defunto para o enterro, a sua esposa não chorou.
Mas, logo que o cortejo fúnebre se pôs em marcha e os esmoleiros fizeram retinir suas latas, aos gritos: ‘A caridade livra da morte’, a mulher caiu num pranto amargo.
– Até agora a senhora não chorou. Por que fraquejou? – censurou-a o filho.
– Por que não havia de chorar? – lamentou-se a viúva.
– Agora, vendo o seu pai não fugir ante os esmoleiros, convenci-me definitivamente de sua morte!”
A TRANSPIRAÇÃO
“O unha-de-fome da cidade, um sujeito que jamais dera uma esmola aos pobres, viu-se acometido de grave enfermidade.
Morria de febre, mas não conseguia transpirar.
Entretanto, se não exsudasse, não sobreviveria.
O médico tentou todos os meios homeopáticos. Mas foi em vão.
Amedrontado, o avarento chamou o rabi. Após a confissão, ditou o testamento, legando vultuosa soma para fins de caridade.
– Anote-o, rabi! Anote-o! – gritou o doente. – É para o bem de minha alma!
O rabi registrou tudo que o sovina ditou.
De súbito, o avarento lançou um brado sobrenatural:
– Pare rabi, estou suando!”