
Adônis era um jovem que só se interessava por caçadas. Mas Vênus se apaixonou por ele, e procurou possuir carnalmente (ou fazer-se possuir) o belo jovem. Adiante veremos o porquê.
Há basicamente duas versões sobre essa história, a de Ovídio (Metamorfoses), e a de Apolodoro – ou Pseudo-Apolodoro.
Esclarecendo: alguém fez um compêndio sobre os mitos e lendas heroicas, chamado “A Biblioteca”. A obra foi atribuída a Apolodoro de Atenas, o Gramático, um erudito do século II. Mas, ele não poderia ter escrito; talvez tenha sido o cronista Cástor, contemporâneo de Cícero. Daí se atribui a autoria a um Pseudo-Apolodoro.
Nosso amigo Shakespeare baseou-se em Ovídio para escrever seu poema.
Aliás, ele o escreveu durante um lockdown, quando os teatros ingleses foram obrigados a fechar para impedir a disseminação da peste bubônica.
O pessoal das fake news da época alardeava que a peste era um castigo de Deus lançado a Londres por seus pecados, “sobretudo a prostituição, a sodomia e o teatro”.
Para ganhar ‘algum’, ele procurou um ‘sponsor‘, um mecenas, e se obrigou a escrever poemas.
“Como o sol, faces púrpuras, desponta
Com o adeus final da aurora se carpindo,
À caça, Adônis, rosto em cor, se apronta.
Se ama caçar, caçoa do amor, se rindo.
Doente de amar, Vênus se lança atrás,
Corteja-o feito um pretendente audaz.”
(…)
“Se eu fosse feia, o rosto duro e gelhas,
Disforme, rude, rouca ou então cretina,
Ignorada, com a reuma e o frio das velhas,
Cegueta, estéril, sem seiva, franzina,
Vacilarias, que a ti não fora feita;
Mas, sendo bela, como me rejeitas?
Não podes ver um vinco em minha face;
Meu olho é azul, brilha e é vivaz, todo ano,
Qual primavera, o belo em mim renasce,
Suave e roliça é a carne; arde o tutano;
A mão, lisa e úmida em tua palma bela,
Se solveria ou fundiria nela.”
A história de Adônis é … embaraçante. Ele seria o filho de Mirra com seu próprio pai, Ciniras. Esta história será contada depois, se quiserem.
Segundo Pseudo-Apolodoro, Adônis, quando nasceu, era tão lindo que Afrodite (Vênus) o quis para si, por isso o escondeu num baú e o confiou a Perséfone, rainha do mundo inferior.
Porém Perséfone também tomou-se de amores pela criança e se recusou a devolvê-la.
A disputa entre as duas deusas acabou no colo de Zeus, que decidiu que o menino passaria um terço do ano com Afrodite, um terço com Perséfone e um terço à vontade.
O terço com Afrodite tornou-se as vivas e florescentes estações da primavera e do verão.
Seus meses com Perséfone marcavam o início da colheita e o inverno.
Na versão de Ovídio, Afrodite se apaixona por Adônis quando este já era um jovem belíssimo e passou a ser sua companheira constante.
Ele, só gostava de caçar, como dito.
Um dia, Adônis fez que um javali selvagem saísse de sua toca e o feriu no flanco com sua lança, mas o javali livrou-se da lança e atirou-se contra Adônis e o feriu profundamente na virilha.
Afrodite ouviu de longe os gemidos do rapaz e correu em sua direção. Mas era tarde.
A deusa decretou que no futuro aquela morte seria lembrada e, fez que a anêmona rubra surgisse anualmente do seu sangue como um símbolo eterno de seu pesar.
Noutra versão, a morte de Adônis é a origem da rosa vermelha.
“Este foi o leito de teu pai, aqui em meus seios,
Tens com ele parentesco de sangue, tens, pois, esse direito.
Ah, vem descansar neste berço vazio,
Meu coração palpitante te embalará noite e dia;
Não haverá um só minuto em cada hora
Em que eu não beije a flor do meu doce amor.”