“É preciso viver.”

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(George Sand, 1804-1876)

Amandine Aurore Lucile Dupin: George Sand, como se assumiu literariamente.

O nome masculino, e os trajes, não eram sinais de homossexualismo. Ao contrário. Era uma força animal, muito feminina; uma criatura poderosa e indômita – após superar traumas da infância e juventude.

E, ia aumentando seu poder de atração à medida que envelhecia. Já sessentona, por exemplo, desfrutou de uma intensa relação carnal com George Marchal, um pintor 22 anos mais jovem.

Adotar um pseudônimo masculino era um recurso habitual entre as escritoras do século XIX. Mulheres ‘sábias’ não eram bem vistas. E, os livros escritos por ‘senhoritas’ eram considerados, já de saída, como literatura menor. Ainda, como ‘homem’ poderia se expressar de uma forma que não era ‘concebível’ às mulheres.

Seu pai era um tenente, neto de um duque. Mas a mãe vinha da sarjeta: trabalhara como prostituta em batalhões de soldados. Lá seu pai a conheceu e se apaixonou. Casaram-se, vinte dias antes do nascimento de Sand.

A família do pai ficou indignada.

Cinco anos depois, seu pai caiu de um cavalo e quebrou o pescoço. Sua avó propôs à sua mãe uma pensão para ela partir e deixar Sand com ela. Por mais que implorasse à mãe que não a “vendesse”, a mãe aceitou e sumiu. Ela ficou sonhando que um dia a mãe viesse buscá-la.

Isso só aconteceu quando a avó morreu; Sand já tinha 17 anos. Ela era a nova proprietária da mansão da família. A mãe voltou para tentar tirar tudo o que pudesse dela.

Um ano depois, ela se casou com um jovem barão, sem dinheiro. O cara era insensível e chatíssimo.

Sand teve uma crise de ‘spleen‘, a doença da época – melancolia e impulsos suicidas. Mas, já tinha um filho e isso a salvou.

Aos 26 anos rompeu com o marido. Perdeu tudo: a mansão e dois filhos.

Foi para Paris, sem um centavo: “Embarco no mar tempestuoso da literatura. É preciso viver.”

Vestia-se de homem para economizar dinheiro.

Conheceu a boemia e artistas. Jantava pombos e vinho às duas da manhã em tabernas.

Começou sua nova vida. Apaixonou-se por Jules Sandeau, um jovem literato, e escreveram um romance, que fez sucesso. Assinaram como “Jules Sand”.

No seu segundo romance, Sand já havia rompido com Jules. Assinou-o como “George Sand”, que ficou até a morte. Não porque quisesse se transformar num homem, mas porque era uma espécie de mulher que não estava incluída nos cânones.

Sonhava com um mundo em que o amor fraterno unisse as classes sociais. Teve participação ativa na revolução de 1848. Com a derrota, precisou se esconder. 

É considerada a maior escritora francesa e a primeira mulher a viver de direitos literários. Um dos segredos:  “O romance não precisa ser necessariamente a representação da realidade.”

Num de seus livros – foram mais de 70 – revelou-se: “Eu sou um poeta, isto é, na verdade sou uma mulher.”.

Após vários amantes, os 34 anos apareceu Chopin, que tinha 28 anos. Ele tinha um comportamento difícil e repulsa ao sexo. E era tuberculoso.

George Sand se devotou a Chopin: cuidava dele, mimava-o e o protegia. Chopin se transformou num outro filho para ela.

Não foi ela, entretanto, que rompeu a relação, após 11 anos. Chopin teria uma paixão platônica por sua filha, Solange.

Ao final da relação, ela desabafou:

“Ah, que alívio, que libertação!

Sempre suportando esse espírito tacanho e despótico, mas sempre acorrentada pela compaixão e pelo medo de que ele morresse de pesar!”

A compaixão pode ser uma prisão! O ‘piedoso’ pode ser cúmplice no processo de autodestruição do protegido.

Quando morreu – uma morte agônica, aliás – Victor Hugo escreveu: “Eu choro uma morte e saúdo uma imortal.”

Seu maior êxito foi sua evolução para a plenitude.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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