
“Cultive o espírito porque obstáculos não faltarão.” (Confúcio)
Alberto Manguel pergunta: “Porque ler Sêneca por exemplo? Entre muitas coisas, para nos consolarmos com o que os alemães chamam ‘Schadenfreude‘, essa espécie de enviesada alegria de descobrir que os outros, nossos antepassados, também não foram felizes e que, nas épocas remotas da cultura clássica, a vida não era mais fácil nem mais justa.”
Sêneca (4 a.C – 65 d.C.) dava grande importância à dimensão ética interior, negava qualquer valor às diferenças sociais e políticas dos homens: todos os homens seriam iguais enquanto tais. Não havia filósofo estoico que, mais do que ele, tenha-se oposto à instituição da escravidão, exaltado o amor e a fraternidade entre os homens.
Acusado de participar na Conjuração de Pisão, recebeu de Nero a ordem de suicidar-se, que executou com o mesmo ânimo sereno com que pregava em sua filosofia.
Conta-se que sua morte foi uma lenta agonia. Abriu as veias do braço, mas o sangue correu muito lentamente; assim, cortou as veias das pernas. Porém, como a morte demorava, pediu a seu médico que lhe desse uma dose de veneno. Como este não surtiu efeito, enquanto ditava um texto a um dos discípulos, tomava banho quente para ampliar o sangramento. Por fim, fez com que o transportassem para um banho a vapor e, ali, morreu sufocado.

Contra a ira, Sêneca recomendava mudar nossa perspectiva ou expandir nossa escala mental; pense no incomensurável, por exemplo, e veremos que não vale a pena ficar com raiva.
Orgulho, dignidade, presunção – as fontes de nossa indignação quando nos sentimos feridos – acabam parecendo vazios quando nos afastamos e vemos nossas vidas à distância: “Afaste-se mais e ria”, dizia.
“Alguém poderia perguntar, afirmando: ‘examino o que está localizado além de nosso mundo para saber se é uma grande vastidão ou está circunscrito por alguns limites; qual a forma dos elementos estranhos; são disformes ou confusos ou com igual volume em cada parte; se estão ligados com o nosso mundo ou dele separados; se vagueiam pelo espaço; se é com elementos indivisíveis que se compõe tudo o que surgiu ou surgirá; ou, ainda, se a matéria de tudo isso é espessa e móvel ao mesmo tempo; se os elementos são opostos entre si ou se não estão em conflito já que contribuem para um mesmo fim por caminhos diferentes’.
Uma vez que veio ao mundo para descobrir tais problemas, vê como é pequeno o tempo de que o homem dispõe, embora se dedique a isso por inteiro. (…)… a natureza não oculta nada de si mesma.”