
Em 21 de setembro de 1946, o New York Times publicava, em editorial:
“Ho Chi Minh … é o Vietnã.
Esta pequena e estranha figura, simples na aparência, mas tão decidida em seus objetivos, encarna o espírito, as aspirações e provavelmente o futuro do novo Estado. Ele o modelou, ele o fez passar pelo fogo e ele o conduzirá.”
Ho Chi Minh era comunista, isso era conhecido. Mas, a ambiguidade americana era só um movimento coerente com seus interesses. Eles queriam (?) o enfraquecimento ou o fim da colonização francesa na Indochina. Isso importava para os negócios. Mas, seria melhor negociar com uma França colonialista ou com um país socialista?
Voltando.
A Guerra do Vietnã começou por volta de 1840, quando os franceses, rivais da Grã-Bretanha, devassaram o Vietnã buscando um novo acesso à China.
Sob o pretexto de proteger os missionários franceses das represálias dos “selvagens” que tentavam cristianizar, navios de guerra franceses chegaram ao Vietnã. Dentro de algumas décadas não só todo o Vietnã, como o Laos e o Camboja estavam sob o domínio colonial da França.
Um dos primeiros passos foi a tentativa de destruição de toda a herança cultural desses países: reduziram drasticamente o número de escolas e ‘romanizaram’ a língua vietnamita, criando uma nova língua. Nenhum aspecto da vida vietnamita permaneceu intocado.
Durante a 1ª Guerra Mundial, a França importou muitos trabalhadores da China e Indochina. O contato direto com a população francesa – e suas ideias de liberdade – contaminaram alguns nacionalistas – entre eles, Ho Chi Minh.
Era o exercício da hipocrisia das “democracias”, que professavam a autodeterminação e praticavam o mais brutal colonialismo. Na década de 1930, as prisões e campos de trabalho forçado tinham mais de 10 mil prisioneiros políticos, só no Vietnã.
Enquanto isso, o Japão alimentava suas ambições territoriais. Era, então, o queridinho dos EUA. No Leste asiático, os americanos tinham ótimas relações comerciais com o Japão; com os demais países, colonizados, havia entraves.
Em 1910, o Japão ocupou a Coréia e, no início da década de 30, consolidava sua soberania na Manchúria. E não pararia por aí.
Em 1923, Franklin Delano Roosevelt, como ex-secretário naval americano, proferiu um discurso intitulado “Devemos confiar no Japão”:
“É evidente que continuaremos a impor-nos e talvez até a ter choques no desenvolvimento do comércio do Pacífico, mas quando consideramos as possibilidades de negócios dos vastos territórios e das imensas populações que costeiam o Pacífico, parece haver espaço comercial suficiente para ser dividido entre nós e o Japão em um futuro infinito …”
Os “princípios” das nações são outro nome para “interesses” econômicos. A forma é a questão que discute em seguida. Ou seja, o colonialismo poderá ser explícito ou “soft“.
Quando a França caiu sob os alemães, o Japão se interessou pela Indochina. Todo o aparelho colonial foi deixado intacto, apenas servindo a novos senhores.
Os americanos começaram a desgostar do Japão; a relação era para ser desigual, com predomínio dos EUA. Os japoneses deveriam se contentar com uma posição secundária na Ásia.
Os atritos começaram. Ainda em 1937, quando os japoneses invadiram Nanquim, o navio de guerra americano Panay, que evacuava o pessoal da embaixada e civis, foi atacado: 4 mortos e mais de 40 feridos a bordo. “Não foi intencional”, disseram os japoneses.
Ho Chi Minh avançava na mobilização da população para a independência. Em 1945, os ganhos do Viet Minh (partido do Ho Chi Minh) eram enormes. Em setembro, promulgou sua declaração de independência.
Os ingleses, autorizados a desarmar e desertar os japoneses derrotados, passaram as armas para os franceses. Em seguida chegaram mais 50 mil soldados franceses, que começaram a “limpeza” contra o Viet Minh.
Em março de 1946, Ho Chi Minh assinou um acordo com os franceses:
“O governo da França reconhece a República do Vietnã como Estado livre, com seu governo próprio e seu parlamento, seu exército e suas finanças, formando parte da federação Indochina da União Francesa.”
Deveria acabar por aí. Mas os franceses ignoraram todas as promessas feitas. Ao invés disso, restauraram rapidamente seu poder. Em novembro de 1946 bombardearam uma cidade: centenas de civis inocentes foram mortos.
E a guerra continuou.