
O físico e historiador Gerald Holton cunhou a expressão ENCANTAMENTO JÔNICO, que considera a unidade das ciências; uma convicção de que o mundo é ordenado e pode ser explicado por um pequeno número de leis naturais.
Einstein tinha esse ‘encantamento’.
A referência é aos chamados filósofos pré-socráticos que habitaram a Jônia, província grega na costa oeste da atual Turquia. Supomos que eles foram os primeiros a tentar responder questões sobre a natureza usando a razão e não a mitologia ou a religião.
Certas ideias tendem a reaparecer de tempos em tempos; nós estamos fadados a redescobri-las devido ao seu incrível poder de sedução intelectual, dizia Aristóteles.
“Jorge Luis Borges (1899-1986), em seu conto “O Imortal”, explora o tema da criação do novo a partir da memória do velho. Criação passa a ser recriação; descoberta, redescoberta.” (Marcelo Gleiser)
Segundo Aristóteles, o primeiro do “Encantamento” foi Tales de Mileto, (624- 546 a.C.), um homem de negócios que se descontraía com a filosofia, astronomia, matemática e engenharia. Muitos o consideram o primeiro filósofo do Ocidente.
Ele postulou, em uma visão profundamente orgânica da natureza, que a substância fundamental do cosmo é a água. Nascia a idéia de se buscar por uma estrutura material unificada no mundo, algo que motiva o trabalho de cientistas em várias áreas, da física de partículas elementares à biologia molecular e genética.
“Para Tales e seus discípulos, a natureza é uma entidade dinâmica, em constante transformação, se renovando indefinidamente em novas formas e criações.
Essa visão foi criticada por Parmênides, que acreditava exatamente no oposto: o que é essencial não pode se transformar. O que “é” simplesmente é.
Nós podemos detectar aqui o germe da idéia de uma entidade eterna, transcendente, que está além das transformações naturais, que são necessariamente menos fundamentais.
O debate entre o eterno e o novo, o Ser e o Vir-a-Ser, já havia começado então, há 2.500 anos.” (Gleiser)
Outros, como os pitagóricos, assumiam que os números eram mais do que números: suas razões e proporções seriam uma espécie de escrita simbólica da razão universal. O estudo da natureza por meio dos números era o estudo dessa razão, o motivo mais nobre de dedicação do filósofo.
Na nossa época, pesquisadores conceberam um processo chamado “co-evolução gene-cultura”. Essencialmente significa que à evolução genética a linhagem humana acrescentou a trilha paralela da evolução cultural e, essas duas evoluções estão interligadas.
“A cultura é criada pela mente coletiva, e cada mente por sua vez é o produto do cérebro humano geneticamente estruturado.
Genes e cultura estão, portanto, inseparavelmente ligados.
Mas, a ligação é flexível, em um grau ainda na maior parte não medido.
A ligação também é tortuosa: os genes prescrevem regras epigenéticas, que são as vias e regularidades neurais no desenvolvimento cognitivo pelas quais a mente individual se constitui.
A mente cresce do nascimento à morte absorvendo partes da cultura existente disponíveis para ela, com seleções guiadas por regras epigenéticas herdadas pelo cérebro individual.
A cultura é reconstruída a cada geração coletivamente nas mentes dos indivíduos.” (Edward Wilson)
Einstein, numa carta ao amigo Marcel Grossmann observou: “É um sentimento maravilhoso reconhecer a unidade de um complexo de fenômenos que para a observação direta parecem ser coisas totalmente separadas.”
Segundo Wilson, a fragmentação constante do conhecimento e o caos resultante na filosofia não são reflexos do mundo real, mas artefatos da erudição.
A “consiliência” é a chave para a unificação do pensar.
Quem primeiro falou de consiliência foi William Whewell, em 1840. Para ele, significava um “salto conjunto” do conhecimento pela ligação de fatos com a teoria, baseada em todas as disciplinas, para criar uma base comum de explicação.
Como dito acima, estamos fadados a redescobrir o que a poeira cobriu.
Os retalhos do conhecimento, se bem costurados podem virar um lindo ‘patchwork’, de início. Depois, os retalhos poderão ser evitados.