Consiliência

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(Edward O. Wilson, 92 anos)

O físico e historiador Gerald Holton cunhou a expressão ENCANTAMENTO JÔNICO, que considera a unidade das ciências; uma convicção de que o mundo é ordenado e pode ser explicado por um pequeno número de leis naturais.

Einstein tinha esse ‘encantamento’.

A referência é aos chamados filósofos pré-socráticos que habitaram a Jônia, província grega na costa oeste da atual Turquia. Supomos que eles foram os primeiros a tentar responder questões sobre a natureza usando a razão e não a mitologia ou a religião.

Certas ideias tendem a reaparecer de tempos em tempos; nós estamos fadados a redescobri-las devido ao seu incrível poder de sedução intelectual, dizia Aristóteles.

Jorge Luis Borges (1899-1986), em seu conto “O Imortal”, explora o tema da criação do novo a partir da memória do velho. Criação passa a ser recriação; descoberta, redescoberta.” (Marcelo Gleiser)

Segundo Aristóteles, o primeiro do “Encantamento” foi Tales de Mileto, (624- 546 a.C.), um homem de negócios que se descontraía com a filosofia, astronomia, matemática e engenharia. Muitos o consideram o primeiro filósofo do Ocidente. 

Ele postulou, em uma visão profundamente orgânica da natureza, que a substância fundamental do cosmo é a água. Nascia a idéia de se buscar por uma estrutura material unificada no mundo, algo que motiva o trabalho de cientistas em várias áreas, da física de partículas elementares à biologia molecular e genética.

“Para Tales e seus discípulos, a natureza é uma entidade dinâmica, em constante transformação, se renovando indefinidamente em novas formas e criações.

Essa visão foi criticada por Parmênides, que acreditava exatamente no oposto: o que é essencial não pode se transformar. O que “é” simplesmente é.

Nós podemos detectar aqui o germe da idéia de uma entidade eterna, transcendente, que está além das transformações naturais, que são necessariamente menos fundamentais.

O debate entre o eterno e o novo, o Ser e o Vir-a-Ser, já havia começado então, há 2.500 anos.” (Gleiser)

Outros, como os pitagóricos, assumiam que os números eram mais do que números: suas razões e proporções seriam uma espécie de escrita simbólica da razão universal. O estudo da natureza por meio dos números era o estudo dessa razão, o motivo mais nobre de dedicação do filósofo.

Na nossa época, pesquisadores conceberam um processo chamado “co-evolução gene-cultura”. Essencialmente significa que à evolução genética a linhagem humana acrescentou a trilha paralela da evolução cultural e, essas duas evoluções estão interligadas.

“A cultura é criada pela mente coletiva, e cada mente por sua vez é o produto do cérebro humano geneticamente estruturado.

Genes e cultura estão, portanto, inseparavelmente ligados.

Mas, a ligação é flexível, em um grau ainda na maior parte não medido.

A ligação também é tortuosa: os genes prescrevem regras epigenéticas, que são as vias e regularidades neurais no desenvolvimento cognitivo pelas quais a mente individual se constitui.

A mente cresce do nascimento à morte absorvendo partes da cultura existente disponíveis para ela, com seleções guiadas por regras epigenéticas herdadas pelo cérebro individual.

A cultura é reconstruída a cada geração coletivamente nas mentes dos indivíduos.” (Edward Wilson)

Einstein, numa carta ao amigo Marcel Grossmann observou: “É um sentimento maravilhoso reconhecer a unidade de um complexo de fenômenos que para a observação direta parecem ser coisas totalmente separadas.”

Segundo Wilson, a fragmentação constante do conhecimento e o caos resultante na filosofia não são reflexos do mundo real, mas artefatos da erudição.

A “consiliência” é a chave para a unificação do pensar.

Quem primeiro falou de consiliência foi William Whewell, em 1840. Para ele, significava um “salto conjunto” do conhecimento pela ligação de fatos com a teoria, baseada em todas as disciplinas, para criar uma base comum de explicação.

Como dito acima, estamos fadados a redescobrir o que a poeira cobriu.

Os retalhos do conhecimento, se bem costurados podem virar um lindo ‘patchwork’, de início. Depois, os retalhos poderão ser evitados.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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