Autômatos e religião

Automaton figure of a monk, South Germany or Spain, c. 1560. National Museum of American History, Smithsonian Institution, Washington, DC.
(monge autômato, 1565)

Em 1565, um relojoeiro de Toledo, Juanelo Turriano, pode ter sido o autor de um autômato de monge, feito de madeira e ferro, de 15 polegadas de altura. Este autômato, que ainda funciona, foi adquirido pelo Smithsonian Institution em 1977.

Periodicamente, o ‘monge’ levanta uma cruz apertada e um rosário em direção aos lábios e seu queixo cai como o de uma marionete, dando um beijo no crucifixo. Ao longo de suas súplicas, os mesmos lábios parecem murmurar, como se ele estivesse proferindo orações penitenciais silenciosamente, e ocasionalmente o minúsculo monge leva o punho vazio ao torso enquanto bate no peito.

Esse autômato foi feito a pedido de Filipe II da Espanha. Uma máquina que ora. A ideia era ter um robô cujas orações deveriam chegar a Deus? O que Deus faria com essas súplicas mecânicas?

Uma curiosidade, embora assuste.

Os gregos antigos falavam de ‘autômatos’, como Talos de Creta, um gigante de bronze, que rondava a ilha, lançando pedras contra as naus que se aproximassem.

O deus das artes mecânicas, Hefesto, contava com duas estátuas moventes femininas (fembot), viventes, preenchidas com mentes e sabedorias.

O mesmo Hefesto teria criado a primeira mulher – Pandora – a partir do barro.

Pigmalião, rei de Chipre, esculpiu uma mulher ideal – Galateia.

Há vários outros exemplos. Na China e no mundo islâmico também.

No século XVI, o mito do Golem volta à tradição judaica, para defender o gueto de Praga.

Mais recentemente, tivemos o Frankenstein, de Mary Shelley.

Um robô pode orar? Uma IA tem alma? Avanços nos autômatos levantam debates teológicos que irão moldar o mundo secular.

“A simples ciência nos daria a chance de superar nossos velhos eus”, diz o jornalista científico Ed Regis, sobre as crenças de futuristas que vêem na tecnologia possibilidades divinas, “deixando para trás nosso materialismo crasso e todo o resto desse excesso de bagagem”.

Pode a IA desenvolver um senso ‘numinoso” – quando o ser desenvolve, a partir de sua ‘vivência’, sensibilidade acerca de questões sobrenaturais, geralmente sagradas, transcendentais ou de divindade?

Os programas de computador são baseados na equação “regras + dados = respostas”. Mas, os sistemas baseados em deep learning são diferentes. Procuram imitar a forma como seres humanos aprendem: “dados + respostas = regras”.

O que pode sair daí?

“O desenvolvimento de computadores autoconscientes teria implicações para a nossa definição da alma, nossas crenças sobre o pecado e a redenção, nossas ideias sobre o livre arbítrio e a providência?

Se os cristãos aceitarem que toda a criação tem o objetivo de glorificar a Deus, como a IA faria tal coisa? A IA iria à igreja, cantaria hinos, cuidaria dos pobres? Rezaria?”, pergunta o escritor Jonathan Merritt.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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