
“Penso que a tarefa do século vindouro, perante a mais terrível ameaça já conhecida pela humanidade, vai ser a de reintegrar os deuses.” (André Malraux)
Newton (1643-1727) acreditava que o universo seria uma imensa máquina composta por partículas materialmente inertes, submetidas a forças cegas. A partir de um pequeno conjunto de leis físicas, toda a história desse sistema poderia ser explicada e prevista, desde que conseguíssemos caracterizá-lo num dado instante.
O futuro estaria contido no presente e no passado, e o tempo seria, de alguma forma, abolido.
Esta, sabemos, é uma visão fragmentada, mecanicista e determinista do universo. Esse pensamento está impregnado nas nossas vidas, há mais de três séculos. E continua.
Mas, o mundo não é assim. “… o mundo é holístico, indeterminista e exuberante de criatividade.” (Trinh Xuan Thuan, astrônomo de origem vietnamita; professor da Universidade de Virgínia)
O mundo não ‘obedece’ a leis invariantes e intemporais; ele é mutável e contingente. O universo não é uma ‘máquina’; é … um ser.
“O universo é como uma fuga de Bach, no sentido em que a ciência descobrirá cada vez mais suas notas, mas a ‘melodia’ permanecerá secreta.
A ciência se aproximará sempre mais da verdade, mas nunca conhecerá sua última palavra. (Trinh Xuan Thuan)
“O que há de mais incompreensível no universo é que ele seja compreensível”, resmungava Einstein.
“A incerteza quântica no domínio do infinitamente pequeno e a teoria do caos no do infinitamente grande alteraram completamente nossa visão do mundo”, constata Edmond Blattchen.
Thuan é um cientista diferente. É budista. Para ele, comunicar seu encantamento com o universo é uma prática de compaixão. Vê a ignorância como um sofrimento.
Não crê num Deus personificado. Deus, para ele, é antes um princípio criador: o princípio que regula o universo.
A evolução do universo e a formação das estrelas – donde viemos – dependem do ajuste extremamente preciso de cerca de quinze constantes físicas, que determinam todas as suas propriedades. Dependem, também, das suas condições iniciais – como tudo que é caótico.
Em experimentos simulados, variam-se um pouco as constantes físicas ou as condições iniciais do universo. Depois verifica-se: surge vida e uma consciência? Não.
Não surge vida nem consciência porque nesses modelos as estrelas não se podem formar. “Se não há estrelas, não há alquimia nuclear, nem elementos pesados, portanto não há vida nem consciência”, diz.
No nosso universo há beleza e harmonia, que nos geraram.
“O universo sabia que o Homem ia vir”, nas palavras de Freeman Dyson.
“Penso que a presença do homem está inscrita em todos os átomos do universo, e que o universo tende para o homem.
Mas, insisto em dizer, é uma posição pessoal.
A ciência não permite decidir entre o acaso e a necessidade.” (Thuan)
Este é o “princípio antrópico“, que diz que o universo tende para o homem. Thuan não espera que a ciência o comprove. Mas, lembra, o universo mostra um princípio de organização. Algo como o Deus de Espinoza ou de Einstein. Deus como princípio criador.
“Se eu fosse todo-poderoso, se dispusesse de milhões de anos para me entregar a experiências cujo resultado final seria o homem, não acho que teria muitas razões de me vangloriar.” (Bertrand Russell)
É. O homem é uma coisa estranhíssima.
Para Thuan, o ‘destino’ do homem depende de uma “parcela de escolha”. Não necessariamente da própria pessoa.
Embora budista, discorda do esquema cosmológico do “universo cíclico“. Acredita que houve um início e haverá um fim.
O budismo, por seu lado, defende que nada pode existir por si mesmo, porque tudo é interdependente. Não poderia, portanto, haver uma causa primeira.
Excelente! Reflexão filosofica objetiva e interrogativa so mesmo tempo.
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