
A peça Eumênides é a terceira parte da Orestéia, de Ésquilo (525-456 a.C.), o pai da tragédia.
Eumênides é um termo que Ésquilo usa para se referir às Erínias, as personificações da vingança sobre os mortais. A deusa Nêmesis também se encarregava da vingança, mas dos deuses. Na mitologia romana, as Erínias eram chamadas Fúrias.
A trilogia Orestéia trata da tragédia de Orestes, filho de Agamêmnon e Clitemnestra. Orestes mata a mãe após saber que ela havia matado Agamêmnon. Tinha lá suas razões.
Orestes passou a ser perseguido pelas Erínias, que não perdoavam matricídio.
Ele apelou a Apolo, o deus que, entre outras coisas, tornava os homens conscientes de seus pecados. Gente boa: era o deus da cura e da proteção contra as forças malignas, mas também da morte súbita, das doenças e pragas. Além disso era o deus da Perfeição, Beleza, Harmonia, Equilíbrio e da Razão. Ultimamente, está sumido.
Apolo, por suas características acima, não gostava das Erínias, e o recomendou que submetesse seu caso a Atena, que providenciou seu julgamento. Ao final, empatado, Atena deu seu voto favorável a Orestes.
Em compensação, Atena concede às Erínias sua entronização entre os cidadãos. Elas passariam a receber honrarias, como oferendas antes de nascimentos e casamentos.
Aceita essa condição, elas fazem uma prece pela cidade e pedem a supressão da guerra civil e a unânime concórdia dos cidadãos em suas manifestações de amizade e de hostilidade.
Essa concórdia que une e reúne os cidadãos em torno de seus interesses comuns é o remédio curativo de muitos males entre os mortais.
Algumas falas:
“… nossa cólera não agride/ quem traz mãos puras/ e sem danos vive a vida. (…)
perseguir mortais/ acometidos de estultices/ perpetradas contra os seus/ até que sob a terra/ se vá, morto mas/ não por demais livre. (…)
Expulsamos de casa os homicidas. (…)
Nem desgoverno/ nem despotismo/ louves. Deus deu vitória em tudo/ ao do meio e vê um por outro.” (Erínias)
“Quem poluir a fonte límpida com maus/ afluxos e lama, não terá donde beber./ Aconselho aos cidadãos não cultuar/ nem desgoverno nem despotismo.
Que mortal é justo, se não tem medo?” (Atena)
Vivemos nossas tragédias nacionais. Tristes rotinas.
Tragédias como as descritas por Aristóteles, com três condições: “ter personagens de elevada condição (heróis, mitos, reis), ser contada num discurso elevado e ter um final triste, decepcionante, com a destruição ou loucura de um ou vários personagens sacrificados por seu orgulho ao tentar se rebelar contra as forças do destino.”
Tragédias com seus paradoxos, como admitidos por Hans Ulrich Gumbrecht: “Princípios e valores que se excluem mutuamente podem estar simultaneamente presentes e ser simultaneamente pertinentes”. Um balaio caótico, pensado para confundir, manipular e garantir o poder.
Numa das biografias de Onassis, ele diz, ao contratar um porta-voz para passar pano sobre suas atividades pouco éticas: “Todos os gênios do mal precisam de um porta-voz inteligente.” Os que temos, sequer são inteligentes. Ah! E pede que leia Eumênides para entender os princípios de vingança.