
“Ó respeitáveis enganadores que troçais de mim!
Donde brota a vossa política,
Enquanto o mundo for governado por vós?
Das punhaladas e do assassínio!
(Charles de Coster, 1827-1879)
Muitos conhecem o livro “Eichmann em Jerusalém” de Hannah Arendt, cujo subtítulo é “Um relato sobre a banalidade do mal“.
Nele, Arendt classifica Adolf Eichmann, um carrasco nazista, como um ser comum e não como um monstro. Essa honestidade de pensamento a deixou com dificuldades na comunidade judaica.
Para ela, este funcionário responsável por milhares de mortes nos campos de concentração não era uma besta horrível como a promotoria argumentava, senão um homem comum que carecia da capacidade de pensar.
Esse tipo de homem, dizia, sem a qualidade do diálogo consigo mesmo, como assim define o pensar, constitui o ser mais perigoso, mais do que qualquer dos piores criminosos, condição que ela definiu como a “banalidade do mal”.
Eichmann havia sido sequestrado num subúrbio de Buenos Aires por um comando israelense e levado para Jerusalém.
Na visão de Arendt – ao longo do processo -, Eichmann era um ‘Zé Ninguém’ (ver Wilhelm Reich) com poderes nas mãos, como vemos em alguns ‘policiais’ que se transformam em opressores ao receber poderes sem preparação.
O Eichmann que ela via era um funcionário mediano, um arrivista medíocre, incapaz de refletir sobre seus atos ou de fugir aos clichês burocráticos.
Aí estava, percebeu, o “coração das trevas”, a ameaça maior às sociedades democráticas: a confluência de capacidade destrutiva e burocratização da vida pública.
Nada é mais burocrático – no sentido de obediência hierárquica – do que as forças militares. Por isso, elas não devem seguir linhas políticas; devem ater-se aos papéis de Estado, constitucionais.
“Ó Alemanha …
Ouvindo as falas que vêm da tua casa, rimos.
Mas quem te vê corre a pegar a faca.” (Bertolt Brecht)
Contextualizando:
Temos um presidente que se fundamenta em mentiras, sabendo que seu público não quer pensar. Um presidente que mente como um analista usaria suas planilhas. É o seu material de trabalho.
“Ele sabe que mente quando diz que o STF o impediu de agir na pandemia. Mente também quando compara a Covid-19 a uma gripezinha. Mente quando fala que defende o meio ambiente. Mente quando alega que houve fraudes nas eleições de 2018. Mente quando nega usar órgãos do governo para proteger seu filho. Inventaram um apoio financeiro ao Butantan – que não existiu. Mentiu na campanha quando disse que não iria tentar a reeleição e, desde o primeiro dia de seu mandato, ela é sua obsessão. Já avisou que se perder em 2022 vai melar o jogo. Mente o tempo todo, sem enrubescer.” (Elena Landau)
Seu ‘ministro da Saúde’ obedece, sabendo ou não que se trata de mentiras. É um Eichmann tupiniquim: ‘É simples assim: um manda e o outro obedece’. Quando a história cobrar suas responsabilidades, como Eichmann, vai alegar que estava só obedecendo ordens.