
“Voltaire é e será sempre atual, porque haverá sempre superstição, fanatismo, intolerância, injustiça, simonia, milagres, tolice.” (Acrísio Tôrres)
Voltaire (1694-1778) era venenoso. Toda a falsa sensação do amparo religioso e da adoção de pensamentos alheios eram evisceradas e começavam a se deteriorar ao serem expostas.
“A ambição de dominar os espíritos é uma das mais fortes paixões. Há muito mais seitas no mundo do que soberanias.”
Para ele, a maioria dos homens apodrece, por conta de sua estúpida indolência, tornando-se “miseráveis máquinas animais, cujo instinto apenas se ocupa do momento presente.”
Assim como, vez em quando, entregamos nosso corpo a charlatães, fazemos o mesmo com nossa inteligência, voluntariamente. Poucos são os que antes de se entregar às ideias alheias as examinam. O ‘espírito partidarista’ – termo da época – entretanto, os domina.
Sobre religião, recomendava a mesma vigilância: “Tu adoras um Deus por Maomé; e tu, pelo grande lama; e tu, pelo papa. Eh, infeliz! adora um Deus por tua própria razão.”
“Se Deus quisesse me fazer conhecer seu culto, seria porque esse culto é necessário para a nossa espécie.
Se fosse necessário, ele mesmo o teria dado a todos, assim como deu a todos dois olhos e uma boca.
Seria uniforme por toda parte, pois as coisas necessárias a todos os homens são uniformes.”
Desconfiem; o homem sábio pensa consigo mesmo. À falta disso, os que estão à frente das seitas têm por objetivo dominar e enriquecer o quanto puderem. Esse domínio se funda, muitas vezes, na miséria dos povos, cimentado com seu sangue.
Gostava de lembrar Jean Meslier (1664-1729), um cura que ao morrer pediu perdão a Deus por ter ensinado o cristianismo.
Apesar de sua virulência contra as religiões, perto da morte faz um retratação e declara morrer na religião católica, para não ser jogado na vala comum.