
Muitos receberam o meme abaixo:
“Trump ganhou uma biografia antes mesmo de nascer: entre os anos 30 e 40 do século passado, o alemão Robert Musil lançou o monumental ‘O Homem sem Qualidades'”.
Isso me levou a reler o tijolo (quase 900 páginas) do anti-romance de Musil. É um clássico, porque não envelhece: o mundo teima em acompanhá-lo e reproduzi-lo.
Para não cansá-los, falarei sobre o livro em vários posts.
Claro que o histrião Trump preocupa. Mas, estou mais atento ao seu discípulo local; eu vivo aqui.
Se o do Norte não tem ‘qualidades’, por as ter abandonado, o local não tem sequer noção do que sejam qualidades.
Não ter qualidades não significa não ter inteligência: ambos são inteligentes, como todos os psicopatas. O racional, para eles, é se perpetuarem.
Como diz Musil, “se existe senso de realidade, tem de haver senso de possibilidade”.
“O senso de possibilidade pode ser definido como capacidade de pensar tudo aquilo que também poderia ser, e não julgar que aquilo que é seja mais importante do que aquilo que não é. (…) Essas pessoas com senso de possibilidade vivem, como se diz, numa teia mais sutil, feita de nevoeiro, fantasia, devaneio e condicionais.”
Preocupa-me a ilusão que esses lunáticos criam, como os terrores que se afligiam às crianças sobre o inferno.
Uma coisa é condenar o roubo sistemático dos bens públicos, como vivemos há pouco. Contra isso, felizmente, surgiu a Lava Jato. Outra, é ignorar os roubos que possam estar sendo arquitetados, sob a cortina da moralidade – sem Lava Jato.
Como as FFAA caíram nesta arapuca? Por que deram um crédito a um apologista daquilo que as FFAA repugnam – atacar a própria pátria e ter a morte como ideal?
Musil responde: “até um cão nobre procura seu lugar debaixo da mesa de jantar, sem ligar para os pontapés, não por servilismo canino mas por devoção e lealdade; e as pessoas frias e calculistas não conseguem na vida metade do sucesso daquelas personalidades bem dosadas, capazes de ter sentimentos profundos por pessoas e circunstâncias que lhes trazem vantagens.”
Seria uma tristeza descobrir que o que move nossas FFAA são as vantagens. Isso é o que arruinou a Venezuela.
“A gente pode fazer o que quiser, que isso não tem a menor importância nesse emaranhado de forças”, diz o homem sem qualidades para si mesmo, dando de ombros.