
“… O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças …” (Álvaro de Campos)
2021. Os muros da iniciante democracia foram testados ultimamente; têm resistido, mas há fissuras. O país, que poderia ser uma nação – se houvesse mais integração, união – poderá sofrer ataques internos, promovidos por aqueles que deveriam defender a Constituição.
Os que pregam a desintegração da identidade nacional, alimentando ódio contra os que não se lhes submetem, torcem para o pior, para que a situação saia do controle, e eles imponham o ‘controle’.
Nas palavras de Oscar Vilhena Vieira, há uma pensada e articulada “erosão do governo das leis”, para, em lugar da “supremocracia“, estabelecer a conhecida ditadura.
A difusão do negacionismo – da ciência, do bom senso e das leis -, alimentada por uma profusão de mentiras diárias, abastece parte da população que resolveu deixar suas esperanças nas mãos de um charlatão.
Há uma ação coordenada que ataca nossas ‘fracas’ instituições. Só há uma folga quando estão sendo cooptadas pelo discurso e benefícios oriundo do poder central.
Assim, vemos nossas Forças Armadas, iludidas e enterradas até o pescoço nesse desvario. A PGR já está silenciada, com um aliado à frente. O Congresso foi ‘convidado’ a se calar, através do alinhamento do Centrão, o símbolo da política que envergonha. Negociações avançam para que as lideranças das duas casas sejam pau mandado. O STF já tem um representante do governo e já contava com outros membros que têm cartilha própria, que não a Constituição. A imprensa séria é diuturnamente combatida e vê a crise, que já se formava com as mudanças de plataformas, acentuar-se com a anemia de publicidades.
“Quando o avanço populista não é interrompido por eleições, como nos Estados Unidos, por pressão parlamentar, como na Itália, ou por vigilância judicial, a corrosão institucional vai fragilizando o sistema de freios e contrapesos e minando a energia e vitalidade de setores independentes do Estado, da sociedade e da Economia.” (Oscar Vilhena Vieira)
Quando todas as fileiras criadas para defender a democracia são caladas ou cooptadas para o propósito final do candidato a caudilho – ignoradas e circundadas como Hitler fez em relação à imóvel Linha Maginot – restam os cidadãos, os que prezam a liberdade.
No ano passado, um índice que avalia o funcionamento das leis em 128 países (“Rule of Law Index”), constatou que o Brasil foi o segundo país que mais regrediu.
Estamos no caminho: não acreditamos nas leis, na polícia, nos políticos, nos governantes, nos empresários … no próprio povo.
Lembro de um livro de Albert Hirschman, de 1991, que antecipava esse estado de coisas: “A Retórica da Intransigência – Perversidade, Futilidade e Ameaça”. Está tudo lá.
Um significativo empresariado (na face bem visivel do apoio amplo e irrestrito da sua “sede” na av paulista) não só fraqueja em agir e promover a democracia como bem comum …
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