
O baiano Bautista Vidal, engenheiro e físico, precisa ser lembrado.
Por seu empenho em tornar o Brasil uma nação soberana, não periférica, que caminhasse com suas próprias pernas, o que requereria uma independência tecnológica.
Por seu pioneirismo na estruturação do Pólo Petroquímico de Camaçari, por ter sido um dos idealizadores do PróAlcool, por seu esforço em tentar agregar valor ao nióbio e ao quartzo, entre outras iniciativas.
O Brasil é o país que detém as maiores reservas mundiais de quartzo. Estima-se que tenhamos 95% das reservas mundiais. Porém, como muitas das empresas operam no regime de garimpo e de forma muito rudimentar, elas não tem base tecnológica para agregar valor e explorar toda a potencialidade de uso do mineral.
Somos o maior produtor de quartzo, mas dependemos de produtos de quartzo manufaturado.
O mesmo ocorre com o nióbio, do qual temos 98% das reservas conhecidas no mundo. O Brasil reúne condições para internalizar as cadeias produtivas que dependem deste insumo para fabricar seus produtos finais.
Ele se empenhou nisso e chegamos a produziu tântalo e lingotes de nióbio com pureza suficiente para produzir fios supercondutores de nióbio-estanho e de nióbio-titânio. O País poderia ter levado o projeto adiante, mas preferiu abandoná-lo (Collor), pondo a perder o trabalho feito até 1991.
Bautista Vidal trabalhava pelo desenvolvimento vertical no país, com agregação de valor através da tecnologia, em ambos os minérios – e outros. Vejam o caso do minério de ferro.
Esse é um dos grandes problemas do país: somos ricos, e isso nos eternizará como pobres.
Continuamos com a mesma mentalidade de quando exportávamos pau-brasil. Exportamos quase tudo in natura. O ganho real acontece nos países importadores, ao manufaturarem e adicionarem suas marcas.
Isso incomodava Bautista Vidal. É como ter um filho e o passar para adoção por pais ricos, para que tenha uma boa educação.
“Vocês estão numa área que envolve a vida das pessoas. E a vida, depois de Deus, é a coisa mais sagrada que existe.” (Bautista Vidal, numa palestra na Anvisa, em 2001)
Num de seus 12 livros, “De Estado Servil a Nação Soberana“, de 1987, no qual propõe a fundação de uma ‘civilização solidária dos trópicos’, apontava o que precisaria ser encarado para essa transformação:
- a questão fundiária;
- a debilidade da educação básica para o nosso povo;
- a mercantilização do ensino secundário e da medicina;
- a entrega de vastas áreas territoriais a corporações transnacionais;
- a devastação do nosso solo agricultável e de nossas florestas;
- a ineficiência da justiça;
- o desprezo pela tecnologia e ciência …
Criticava, antes de tudo, a inexistência de um projeto nacional: a definição e planos para objetivos coletivos válidos.
Temos um perfil de servilidade; abrimos mão de nossa soberania, com inserção e orgulho próprio.
“… para impedir esse propósito, insistem em minar a têmpera do nosso povo, através da destruição de sua autoestima.”