
Todos os animais até hoje estudados dormem.
Neurocientistas já comprovaram que o sono REM (‘movimento rápido dos olhos’, em inglês), durante o qual sonhamos, é importante para trabalharmos nossas emoções negativas, aprimorarmos habilidades sociais e para a criatividade e solução de problemas.
O sono NREM (mais profundo, sem sonhos) é o que consolida as memórias entre outras funções.
Matthew Walker, em seu livro “Por que nós dormimos?”, alerta que a modernidade nos lançou numa epidemia de falta de sono. Consequências? Graves.
O sono subótimo está associado a problemas cardíacos, câncer, diabetes, obesidade, demência …
Psicologicamente, temos piora no desempenho cognitivo e suas consequências.
Bom, para ele, quase todos precisam dormir oito horas por dia e, se possível, um cochilo após o almoço.
Temos sido pressionado para dormir cada vez menos. Há quem acorde à noite para ver suas redes sociais! Há quem imagine que produtividade é trabalhar mais horas, mesmo remotamente.
O descaso com o sono custa vidas: erros médicos e de enfermeiros, acidentes de trânsito e enfermidades crônicas.
Nos EUA, mais de 80 milhões de adultos sofrem de falta de sono crônica, ou seja, dormem menos que o mínimo recomendado de sete horas por noite. Às segundas-feira após a adoção do horário de verão no país, há um aumento de 24% nos ataques cardíacos, comparativamente às outras segundas-feira.
O sono é algo ancestral; sua principal função não é apenas organizar memórias, por exemplo: é preservar a própria vida. É no sono profundo que as nossas células mais produzem o hormônio do crescimento, essencial ao longo da vida para a reconstituição de ossos e músculos.
Nosso ritmo circadiano está adaptado à sucessão diária de luz e escuridão. A glândula pineal, na base de nosso cérebro, produz melatonina e sinaliza que chegou a noite e, logo nossos neurônios entram no novo ritmo.
“Os sonhos são como as estrelas; estão sempre lá, mas só podemos vê-los durante a noite.” (Sidarta Ribeiro)
Os militares, lembra Jonathan Crary, ‘sonham’ com o fim do sono. Eles pesquisam (o Departamento de Defesa dos EUA) como as pessoas poderiam ficar sem dormir e funcionar produtiva e eficientemente. Inspiram-se no pardal de coroa branca, que permanece acordado por até sete dias durante as migrações: voam e navegam durante a noite e procuram alimentos durante o dia, sem descansar.
Um soldado sem sono! Um trabalhador sem sono!
Eles sabem que as formas existentes de induzir a insônia (anfetaminas e Provigil, por exemplo) têm sido acompanhadas por déficits cognitivos e psíquicos deletérios, entre os efeitos mais imediatos.
Então, pesquisam formas de reduzir a ‘necessidade’ de sono do corpo, ao invés de estimular a vigília. Hummm…
Poucos lembram, mas na década de 1990, um consórcio espacial russo-europeu queria construir satélites que refletiriam a luz solar durante todo o dia. De início, iluminaria regiões com longas noites polares na Sibéria e no leste da Rússia. Depois, pensaram em fornecer iluminação noturna para regiões metropolitanas.
“Luz do dia a noite toda”, era o slogan.
As consequências fisiológicas para os animais – e humanos -, com a ausência de alternância regular entre dia e noite, era desprezada. Acho que o projeto foi interrompido.
Entretanto, o capitalismo não gosta que durmamos: “A imensa parte de nossas vidas que passamos dormindo, libertos de um atoleiro de carências simuladas, subsiste como uma das grande afrontas humanas à voracidade do capitalismo”, reforça Crary.
São Paulo, a cidade que não dorme! Lembram?
Dormir, capitalisticamente, é perda. O sistema nos pede um regime 24/7!
Ótima publicação, Dorgival. Tem um documentário muito bacana que entre algumas de suas reflexões aborda essa questão do sono: “A Luz Que Vem da Escuridão” (tem no youtube, completo). Fica a sugestão. Obrigado!
Abraço
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Obrigado. Procurarei.
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