Não fosse a obrigação, a Criação teria sido bem perfeita

Entre versos e rimas: a poesia de Flora Figueiredo
(Flora Figueiredo)

Escapismo

“Tristezas podem ficar caladas.

É só não puxar por elas.

Enquanto dormem,

abastecemos a barca de sonhos,

aquietamos o rio das indagações.

Quando a tristeza acordar pálida do pó de seus porões,

é nossa vez de descansar.

O ponteiro do desencontro torna possível navegar.”

Momento mole de uma tarde de abril

“Cheiro de café fresco,

vindo da cozinha.

Tem coisa melhor que manteiga derretendo

em pão quentinho?

Às vezes Deus acerta tanto

que a gente nem sabe como agradecer.

Por isso é que não se mata passarinho.

E tem goiabada com queijo,

melado com farinha,

pinga com limão.

O resto, a vida ajeita.

Não fosse a obrigação,

a Criação teria sido bem perfeita.”

Como nascem as manhãs

“O fundo dos olhos da noite

guarda silêncios.

Esconde na retina

a menina que corre descalça em campo aberto.

Pálpebras cerradas, a noite emudece.

A menina com medo

faz um furo no escuro com a ponta do dedo.

Cai um pingo de luz.

Amanhece.

Bom-senso

“Hoje não vou,

que é dia ruim de decisão:

o ninho apareceu cheio de ovos,

o vaso me presenteou com botões novos,

a lua fez alongamentos verdes sobre o mar.

Dia de emoção não é dia de ir.

Quem sabe amanhã amanhece chovendo

e eu fico matemática.”

(Poemas de Flora Figueiredo)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: