
Março de 1946. Franz Stigler dirigia-se a uma olaria em Straubing, sul da Alemanha. Procurava trabalho. Havia uma longa fila de trabalhadores em frente à construção.
Conforme Franz se aproximava, eles observavam suas botas em um julgamento silencioso. Eles sabiam, a partir das botas, que ele tinha sido um piloto de combate e o culpavam pela destruição do país. “Os senhores, pilotos de combate, falharam!”, gritavam.
Houvera uma época em que os pilotos de combate eram os heróis do país. Agora, eram xingados como ‘nazista’ pelos próprios alemães.
Franz não era um nazista. Para ele, os nazistas eram os do Partido, os nacional-socialistas, políticos e burocratas famintos pelo poder que haviam dominado a Alemanha no rastro dos punhos violentos e desencantados das massas.
Ele era um piloto; nunca se filiara ao partido. Tinha 17 anos quando o partido assumiu o poder, embora 56% da população terem votado contra eles.
Ele jamais havia desejado a guerra. Mas, recrutado, saiu-se bem: sobreviveu.
Pilotava um Messerschmitt 109, um caça fantástico! Voava a 643 km/h. Conduzira três esquadrões de pilotos, cerca de 40 homens. Em três anos, participara de 487 combates, fora ferido duas vezes e queimado uma; mas, de algum jeito, sempre conseguira voltar para casa. Dos 28 mil pilotos do Reich, só 1200 sobraram.
Franz tinha algo estranho: não era sanguinário, tinha mantido seu caráter.
“Dezembro de 1943. Um bombardeiro americano seriamente danificado se esforça para sobrevoar a zona de guerra alemã.
No controle está um jovem de 21 anos, o segundo-tenente Charlie Brown. A maior parte da tripulação está morta ou gravemente ferida.
Um caça inimigo se aproxima. A suástica na cauda do avião não deixa dúvidas.
Seu piloto é o experiente alemão Franz Stigler.
Só um tiro e o abate será mais uma vitória no currículo de Franz, para deleite de seu superior Hermann Goering.
Mas o que aconteceu ali desafiou a lógica da guerra.”
Charlie Brown viu o piloto alemão movendo a cabeça num incompreensível sinal afirmativo e achou que estivesse sonhando.
Franz escoltou o B-17 durante dez minutos. Quando ele se aproximou da costa da Inglaterra, balançou as asas e voltou para base alemã.
“Não se atira em paraquedista. O avião estava fora de combate. Eu não carregaria isso na consciência”, contou Franz, anos depois.
Os superiores de Charlie mandaram que ele não contasse o episódio, pois poderia comover os colegas com a ideia de que havia alemães civilizados.
Franz também silenciou: se revelasse a história seu destino seria o pelotão de fuzilamento.
Em 1990 os dois encontraram-se. Franz tinha 75 anos, e Charlie, 68. Ambos morreram em 2008.
Essa história é contada por Adam Makos e Larry Alexander em “O amigo alemão”.