
Entre os filósofos antigos costumava aparecer alguém que gostava de imaginar todas as coisas do mundo como sendo animadas, constatava Luciano de Crescenzo.
Tales de Mileto, por exemplo, dizia que tudo está cheio de Deuses; Anaximandro acreditava que os elementos naturais eram divindades em contínua luta entre si; para Anaxímenes as pedras tinham alma; e, muitos estoicos assumiam o fogo como princípio animador. Além de Espinoza, para quem havia diferentes graus de vida na matéria.
Esse tipo de pensamento tem um nome: imanentismo panteísta ou, ‘hilozoísmo‘.
Hilozoísmo vem de ‘hýle‘ (matéria, em grego) e ‘zoé‘ (vida).
Luciano de Crescenzo, entretanto, encontrou um hilozoísta contemporâneo: um napolitano chamado Peppino Russo. Ele pendurava bonecas abandonadas e brinquedos velhos nas árvores de um bairro.
Pendurava também cartazes com frases lapidares, como: “Homem, tu és a natureza, se a destruíres, destruirá a ti mesmo.”
Conversando com Peppino, este logo falou que não era louco. Ele havia sido suboficial da aeronáutica, tocava violino e pintava.
Para Peppino, todos os brinquedos têm alma. Não quando estão novos, sem ‘uso’. Mas, “logo que uma criança começa a amá-los, uns pedacinhos da alma daquele que ama vão abrindo caminho no plástico até transformá-lo em matéria viva.”
Ele conta que, diante do cadáver do pai – a quem adorava – não conseguiu sensibilizar-se; era algo claramente desprovido de alma; algo que nada tinha a ver com seu pai.
Mas, no dia seguinte, ao entrar no quarto do pai falecido, viu alguns objetos de uso pessoal. “Só de vê-los, a minha cabeça começou a rodar e cai no choro. Era ali que meu pai se havia escondido: no cobertor escocês, na caneta-tinteiro de tampa dourada, na poltrona de couro de braços desgastados, em inúmeras outras coisas com as quais partilhara a sua solidão”, explicou.