
“Pétalas voam
Todas elas fazem o
Galho mais velho” (Yosa Buson, 1716-1783)
Em Fédon, Platão insinua que a morte não é nenhum ponto-final catastrófico. Ela seria um ponto extraordinário de virada que leva a um ser superior. Ela aproximaria a alma do “invisível”, do “divino”, do “racional” e do “uniforme” que, como o imutável, permanece sempre igual a si mesmo.
“Se, com efeito, é impossível , enquanto perdura a união com o corpo, obter qualquer conhecimento puro, então de duas uma: ou jamais nos será possível conseguir de nenhum modo a sabedoria, ou a conseguiremos apenas quando estivermos mortos, porque nesse momento a alma, separada do corpo, existirá em si mesma e por si mesma. (…) pois não é possível apossar-se do que é puro quando não se é puro.” (Sócrates)
Assim, “estar morto significa tudo, menos não ‘ser’. Antes, a morte eleva, aprofunda, esclarece o ‘ser’. Estar morto significa estar desperto, ficar ‘recolhido em si mesmo’, e, não ser distraído ou confundido pelo corpo, que obscurece a verdade. A morte aprofunda o recolhimento e a interioridade da alma”, interpreta Byung-Chul Han.
“Tomada na mão
Esvai em lágrimas a
Geada outonal …” (Matsuo Bashô, 1644-1694)
Para Hegel, o individual, ou seja, o finito, tem de ruir até o seu fundamento, pois ele não é o universal, o infinito. Sua “inadequação à universalidade é o germe inato da morte”.
A morte seria uma “passagem da individualidade para a universalidade”. Não seria um ponto-final, apenas um “ponto de passagem”. Ao invés de uma catástrofe, seria uma virada e inversão em um ser superior, um retorno do negativo para o positivo.
Na morte, o indivíduo se despe de sua finitude e se aproxima de seu fundamento infinito.