
“Do rosto manter
Afastadas as moscas
Só por enquanto …
A noite irrompe e não me resta mais nada a fazer do que – por mais que me pareça desprovido de sentido – umedecer, com a água de uma jarra ao lado do leito de meu pai, os seus lábios.
A luz do dia vinte aparece na janela. Em volta da vizinhança, todos já repousavam em profundo sono.
Quando ouvi à distância oito vezes o cacarejar do galo, sua respiração se tornou tão baixa, tão baixa, que mal se podia mais a perceber.” (Kobayashi Issa)
Kobayashi Issa (1763-1828), japonês, teve uma vida atribulada. Aos seis anos começou a estudar budismo e teve seu primeiro contato com a poesia. Depois, deixa de estudar para trabalhar no campo.
Aos três anos de idade fica órfão de mãe. Seu pai casa-se de novo e suas relações com a madrasta são tensas. Vai viver com sua avó. Ela morre e ele segue para Edo – atual Tóquio – em 1777. Tem 14 anos. Frequenta uma escola da linha poética de Basho. Passa fome e frio. Torna-se monge budista. Volta à sua cidade natal. Aos 29 anos inicia uma longa peregrinação pelo Japão, que dura sete anos.
Volta à sua cidade natal. Tem 37 anos agora. Morre seu pai. Leva uma vida errante. Tem um casamento infeliz com a filha de um samurai. Separa-se. Casa-se com Kiku, com quem tem quatro filhos. No espaço de 10 anos morrem Kiku e todos os filhos.
Vem aqui,
Pardalzinho, você,
Órfão como eu
Abraçada à pipa
A menina
Em sono profundo
“Em nenhum momento de minha vida fugi de pensamentos sobre a casualidade e a impermanência, compreendi que todas as coisas do mundo têm vida curta e arrebatam como um raio. Eu errei até que meu cabelo se tornasse branco como a geada de inverno.”