A Sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel (Comunidade Sagrada Rochedo de Israel), em Recife, fundada em 1636, foi a primeira comunidade judaica em território português na América do Sul.
A região, à época, estava sob domínio holandês, que garantia liberdade religiosa e protegia judeus e cristãos-novos das restrições impostas por Portugal. Estima-se que cerca de 1.500 judeus formavam a comunidade. Com a expulsão dos holandeses, os judeus tiveram que novamente emigrar (ou se esconder nos sertões nordestinos).
Os judeus só “voltariam” ao país em 1824, para Belém, Pará, atraídos pela extração da borracha. Eram principalmente do Marrocos. No século XX, entretanto, houve um grande fluxo migratório para várias regiões do Brasil.
A Inquisição em Portugal contra cristãos-novos começou em 1536. Investigavam se os ‘convertidos’ continuavam praticando em segredo os rituais e costumes judaicos; se eram, portanto, marranos ou criptojudeus. Aqui, cerca de 400 pessoas foram acusadas de “judaizantes” e processadas. Dessas, 18 foram condenadas à morte.
Lembremos que os portugueses se viam como “conquistadores” e “exploradores”; nós é que os chamamos de “descobridores”. Eram conquistadores de terra e de ouro, mas como tinham a Igreja como sócia, também de almas.
No Brasil, até a Independência, os judeus não podiam exercer sua religião livremente; só o cristianismo era permitido. Também não podiam integrar instituições como as Irmandades de Misericórdia e as Câmaras Municipais – exigiam “pureza de sangue”.
Após a Independência, o catolicismo continuou como religião oficial, mas as demais religiões podiam ser praticadas, de forma privada.
Só a República viria a separar religião e Estado, estabelecendo a completa liberdade religiosa (exceto para as de origem africana, discriminadamente).

O antissemitismo, que vem do tempo em que éramos colônia, permanece – veladamente -, com resquícios inconscientes do antijudaísmo medieval que via o judeu como assassino de Jesus e ligado a estereótipos de usura e avareza.
Reconhecidamente, apesar da presença judaica no país não ser demograficamente muito representativa, sua presença nos setores econômicos, políticos, culturais e sociais é muito relevante. Em parte isso é devido ao “espírito de judaísmo”, no dizer de Bernard-Henri Lévy: um povo atravessado pelo imperativo do pensamento, do diálogo e do conflito.
“O passado não está morto e enterrado; na verdade, ele nem mesmo é passado.” (William Faulkner)
Fontes: Jeffrey Lesser, Roney Cytrynowicz e Francisco Weffort.