
Maria Lejárraga. Conheces? Poucos a conhecem. Mas, seu marido, Gregório Sierra, foi um dos mais famosos dramaturgos espanhóis no início do século passado.
Porém, tudo é criação dela. Ele só assinava.
Ela, além de dramaturga, escreveu libretos e numerosas zarzuelas. E, foi ensaísta, feminista, socialista e deputada (uma das primeiras) durante a República.
Morreu em Buenos Aires, em 1974, com quase cem anos, lúcida e ativa.
Na sua infância, conheceu o horror e a dor da miséria; e da opressão.
A Espanha vivia ancorada num conceito retrógrado da feminilidade e da família, imposto pela hierarquia eclesiástica. 70% dos espanhóis eram analfabetos; a igreja (e o Estado) lhes diziam o que fazer e como se comportarem. O arejamento do espaço das mulheres era ferrenhamente combatido.
“(…) a emancipação da mulher é uma coisa aberrante. É preciso encerrar essas Eumênides (benfazejas) em casa de correção ou em manicômios imediatamente.” (Alarcón, jesuíta, 1908)
Em 1927, uma revista religiosa investia contra as mulheres que se reuniam em clubes femininos: “A sociedade faria muito bem enclausurando-as como loucas e criminosas. O ambiente moral da rua e da família ganharia muito com a hospitalização ou o confinamento dessas mulheres excêntricas e desequilibradas.”
Aliás, essa era uma prática comum nos séculos XVIII e XIX: manicômios para as ‘independentes’.
Bom, enquanto Maria produzia, Gregório vadiava na cama até muito tarde. Ela, como todas as mulheres, casou-se com ele para poder se ‘emancipar’. Sair da tirania paterna implicava em cair na do marido. A vantagem de se casar com homens fracos era que eles permitiam que elas desenvolvessem algumas de suas capacidades.
Uma história e tanto, a de Maria Lejárraga.