
Falemos um pouco sobre escravidão, essa coisa “benéfica para os descendentes”, na opinião de quem ocupa a Fundação Palmares, criada para “promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”.
Escravidão é história a ser apagada, como convém ao negaciosismo vigente.
Foram 338 anos de sofrimentos, humilhações e mortes abruptas, pelo açoite ou por doenças fulminantes. Toda morte era uma “perda econômica” para o “proprietário” mas, acontecia, com dor no coração.
José do Patrocínio dizia que, no Brasil, o verdadeiro Século das Luzes foi o XIX, “que viu secar a chaga da escravidão.”
Foram cerca de 5 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho.
O assunto é ‘incômodo’ para os que imaginam viver numa ‘democracia racial‘.
Para esses, não há racismo no país e, a baixa mobilidade social dos negros e pardos não se deve à discriminação racial; esta seria irrelevante em relação a recortes como gênero e classe.
Há muitos episódios ‘esquecidos’ a respeito da luta dos abolicionistas:
- Maria Tomásia Figueira Lima, a aristocrata que lutou para adiantar a abolição no Ceará (que foi pioneiro; em 25 de março de 1884 foi realizado o ato oficial de libertação dos escravos no Estado);
- Luís Gama, o ex-escravo que se tornou advogado e ferrenho abolicionista;
- André Rebouças, o engenheiro que queria dar terras aos libertos;
- Adelina (sobrenome desconhecido), a charuteira que atuava como ‘espiã’; filha bastarda e escrava do próprio pai, escondia escravos e promovia sua fuga, conseguindo informações sobre ações policiais e estratégias dos escravistas.
- Dragão do Mar, o jangadeiro que se recusou a transportar escravos para os navios;
- Maria Firmina dos Reis, maranhense; a primeira escritora abolicionista.
Falemos sobre um que pagou com sua vida o empenho pela causa dos escravos.
Joaquim Firmino de Araújo Cunha, um delegado de polícia abolicionista, na pequena Itapira, a cerca de 170 km de São Paulo.
Na madrugada de 11 de fevereiro de 1888, foi encurralado por cerca de 200 pessoas e morto violentamente dentro de casa, onde estavam também a mulher, Valeriana, e os filhos. Ele foi espancado até à morte no quintal.
Os mandantes do crime: um inglês e um americano que haviam se mudado para o Brasil depois de lutarem na Guerra de Secessão dos Estados Unidos do lado dos confederados, que eram contrários ao fim da escravidão no país.
“Naquele tempo, o cargo de delegado era indicado. Geralmente era alguém que cumpria ordens (das elites locais), um pau mandado — coisa que ele não foi”. (Eric Apolinário)
Ele se recusava a prender “escravos fugidos”. Chegou a acobertar fugas, muitas delas com destino ao quilombo Jabaquara, em Santos, e a esconder “fugitivos” em sua própria casa. Isso desagradava os “barões do café”.
Todos os réus foram absolvidos.