
“Se alguém, vendo Deus, compreende o que viu, não viu Deus.” (Pseudo-Dionísio)
“A poesia talvez não diga nada. A rigor, não diz. O uso que faz das palavras não é para
dizer o que as palavras dizem, mas o que elas não são capazes de dizer. Como a música,
a poesia também não encontra palavras que a possam traduzir. E assim como a lua que
apontamos não deve ser confundida com o gesto do apontar, o sentido das palavras de um
poema não está propriamente nas palavras que o expressam. Não há o lugar do poema.” (Antonio Brasileiro)
“O valor artístico pretende proporcionar um prazer, mas encontra-se a um nível muito elevado, sendo portanto fácil faltar-lhe quem possa usufruir desse prazer; oferece belos manjares, mas ninguém os aceita.
Isso confere-lhe algo de patético que é, segundo as circunstâncias, ridículo e comovente; porque, no fundo, ele não tem o direito de forçar os homens a experimentarem o prazer. Se a sua flauta ressoa, mas ninguém quer dançar, poderá isso ser trágico? Talvez, ao fim e ao cabo.
— Mas ele tem, para o compensar desta privação, maior prazer em criar que o resto dos homens em todos os outros tipos de atividade.” (Nietzsche)
“O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.”
(Alberto Caeiro)
Segue o Teu Destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nos queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
(Ricardo Reis)
Começo a Conhecer-me. Não Existo
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida …
Sou isso, enfim …
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
(Álvaro de Campos)
“Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!”
(Álvaro de Campos)
Fernando Pessoa teve mais de 70 heterônimos. Ele não cabia em si. Dizem que já aos 6 anos de idade, deu vida a um amigo imaginário, o Chevalier de Pas, de quem recebia cartas.
Dizem, e ele próprio, que era médium: “(…) estou desenvolvendo qualidades não só de médium escrevente mas também, de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam a ‘visão astral’ e também a chamada ‘visão etérica’. Tudo isto está muito em princípio, mas não admite dúvidas”, numa carta à tia Anica.