
Paulo Prado era rico, elegante, esportista e culto. Eça de Queirós ficou impressionado quando o conheceu: ” Menino, tu és uma perfeição humana”, exclamou. Era um mecenas, discreto. Coisa rara.
Ao redor dos cinquenta anos tomou coragem para “tentar entender o Brasil”, e o brasileiro: ainda uma incógnita.
O brasileiro, que senta na glória, antes dela chegar; que repete o passado ao queimar o futuro, hoje; que não conhece sua identidade, por não querer aceitá-la; o envergonhado por ser brasileiro. Nem todos, claro.
Paulo, por exemplo, poderia morar em Paris, a Flórida da época, mas decidiu-se por investigar as origens da nossa nacionalidade, para poder embasar um orgulhoso nacionalismo. Um nacionalismo cultural.
Esse nacionalismo se traduziria num surto radical de uma “arte brasileira”, sem o pó do conformismo e sem o culto do “exterior”. Queria o nascimento do “brasileiro”, altivo, confiante e responsável por seu futuro.
“Imaginava uma nova era, em que já não seríamos tão dependentes dos estímulos exteriores para alimentar nossa própria dinâmica social. Um nacionalismo como o processo de tomada de consciência das limitações e virtualidades do corpo social que permitiria ‘romper os laços que nos amarram desde o nascimento à velha Europa, decadente e esgotada.'” (Carlos Augusto Calil)
Paulo esteve no centro do movimento da Semana de Arte Moderna.
Ao escrever “Retrato do Brasil“, em 1928, via o país e seu futuro desencaminhados por uma política mesquinha, conduzida por uma elite míope e incompetente, incapaz de enxergar a realidade e nela intervir na direção das necessidades do momento. O que mudou?
Chegou a afirmar que a solução para os males da nação passava pelo processo depurador da revolta social!
Estava imbuído de um “santo pessimismo“.