
Laura Riding (1901-1991) foi uma poetisa americana, estranha. Ela acreditava ter poderes; considerava-se uma bruxa. Muito inteligente, porém pérfida.
Segundo Rosa Montero, ela era uma força maligna; por onde passava, tudo desmoronava.
UMA GENTILEZA (Laura Riding)
Estar viva é estar curiosa.
Quando perder interesse pelas coisas
E não estiver mais atenta, álacre
Por fatos, acabo este minguado inquérito.
A morte é a condição do supremo tédio.Vou deixar que me desintegre
E aí, por saber da paz que a morte traz,
Seria bom seguir convencendo o destino
A ser mais generoso, estender, também,
O privilégio do tédio a todos vocês.(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes)


Conviveu durante 13 anos com Robert Graves, britânico, poeta aclamado, mas que ficara psicologicamente frágil após participar na I Guerra. Estudioso de mitologia, publicou o excelente “Os Mitos Gregos” e o cultuado “A Deusa Branca”.
Graves soube de Laura: uma poetisa que profetizava, com palavras de visionária, uma nova ordem moral. Uma revolução espiritual que os poetas deviam liderar.
1925: Laura escreve para Graves, que já era um poeta conhecido.
Graves tinha 30 anos e era casado; Laura, 24 e acabara de se separar do marido.
Graves convidou Laura para acompanhá-lo numa viagem ao Egito, com sua esposa. Ela foi imediatamente. Começava aí o relacionamento entre ambos; aliás, entre os três. Era a Trindade ou Círculo Sagrado – ela era uma deusa e Graves, seu sacerdote.
O poeta Allen Tate, que conhecia Laura, escreveu a um amigo: “Pressinto um desastre. Laura é, sem dúvida, a mulher mais louca que já conheci, e se o Graves não estiver louco, vai virar um maníaco em menos de um mês”.
Depois Laura convidou o poeta irlandês Geoffrey Phibbs para uma visita, com sua mulher. Logo, Phibbs tornou-se mais um no Círculo Sagrado.
Quando Laura perdeu seu poder sobre Phibbs (ela era o Bem, e não amá-la era entregar-se ao Mal), atirou-se do quarto andar do prédio. Graves, correu escada abaixo, mas ao chegar no terceiro andar, pulou também. Magicamente, não morreram.
Segundo Deborah Baker, sua biógrafa, a loucura de Laura atraía muitas pessoas, porque refletia a desordem interior que se aninha em todos. A ‘loucura’ não é algo que esteja fora de nós, e sim um ingrediente habitual dos humanos – em variadas proporções.
“Quando tivermos reduzido o máximo possível as servidões inúteis, evitado as desgraças desnecessárias, restará sempre, para manter vivas as virtudes heroicas do homem, a longa série de males verdadeiros: a morte, a velhice, as doenças incuráveis, o amor não partilhado, a amizade rejeitada ou traída, a mediocridade de uma vida menos vasta do que nossos projetos e mais enevoada do que nossos sonhos. Enfim, todas as desventuras causadas pela divina natureza das coisas.” (Marguerite Yourcenar)