
O pernambucano Nelson Rodrigues morreu há 40 anos. Sua família mudou-se para o Rio quando tinha 4 anos de idade, por motivos políticos.
Era odiado pela esquerda porque apoiava a ditadura militar; assumia-se como reacionário. Isso mudou quando seu filho, Nelsinho, foi preso e torturado, apesar de sua ‘amizade’ com os militares. Devia desconfiar, a partir da censura de suas peças.
A ditadura não é só para os outros, demora-se a aprender.
Escrevia e falava o que a ‘sociedade’ não queria, hipocritamente, assumir e encarar. Mas, na minha opinião, era um moralista; embora muitos o considerem imoral.
Perdida
“Primeiro foi o pulmão. Depois, a laringe. E como ele não pagava consulta, o médico chamou d. Branca e foi de uma clareza meridiana: – Minha filha, teu marido está muito mal! – Tanto assim, doutor? O médico fez os cálculos: – Dura uns três meses, no máximo!
Durou dois e olhe lá. E morreu, segundo o testemunho da própria d. Branca, “como um passarinho”. Nos últimos dias, a tuberculose, que devorava os dois pulmões, subiu para a laringe. O doente quase não podia falar; sua voz era um sopro; e estava que era um esqueleto com leve revestimento de pele. (…)
No enterro, d. Branca já estava fora de si, sentia que o marido não fora convenientemente chorado …”
Sobrou uma filha, Das Dores, “manhosa da cabeça aos pés, cheia de vontades, de caprichos, desaforada, a menina vivia explorando sua patética fragilidade.” (…)
Aos dezoito anos, revelou-se e rebelou-se, “tornou-se dona do seu nariz”.
Começou a colecionar ‘bugigangas’, ‘bijuterias’. (…)
Mas, eram jóias verdadeiras, ganhas nas saídas à noite.