
Em 12 de agosto de 1798, apareceram alguns “papéis sediciosos” afixados nos pontos principais de Salvador. Eram 11 textos diferentes (manuscritos), mas com a mesma invocação: incitação à revolta contra a Coroa.
Eis um deles (grafia original):
“Avizo ao Pôvo Bahinence
Ó vós Homens Cidadaons, ó vós Pôvos curvados, e abandonados pelo Rei, pelos seus dispotismoz, pelos seus ministroz …
Ó vós Pôvo que nascesteis para sereis Livres, e para gozares dos bons efeitos da Liberdade; Ó vós Pôvo que viveis flagelados com o pleno poder do Indigno coroado, esse mesmo rei que vós creasteis; esse mesmo rei tirano he quem se firma no trono para vos veixar, para vos roubar, e para vos maltratar.
Homens, o tempo he xegado para a vossa ressurreição, sim para ressussitareis do abismo da escravidão, para levantareis a Sagrada Bandeira da Liberdade.
A liberdade consiste no estado felis, no estado livre do abatimento; a liberdade he a doçura da vida, o descanso do homem com igual palallélo de huns para outros, finalmente a Liberdade he o repouzo, e bemaventurança do mundo. (…)”
Percebe-se a influência da Revolução Francesa, da Declaração da Independência dos Estados Unidos e, ecos da Inconfidência Mineira (1789).
Mas, era mobilizada por pessoas comuns (alfaiates, soldados, escravos e artesãos). Os mais letrados eram o cirurgião Cipriano Barata, o professor Muniz Barreto e o pequeno comerciante José Raimundo Barata. Foi, portanto, um movimento de caráter popular.
Sua revolta era contra a escravidão, a carestia e o esvaziamento econômico da cidade (Salvador deixara de ser a sede do governo colonial em 1763).
Muniz Barreto compôs o Hino da Liberdade:
“Igualdade e liberdade,
No sacrário da razão,
Ao lado da sã justiça
Preenchem meu coração …”
A Conjuração Baiana teve como principais líderes homens pobres, negros, e sem prestígio social, apoiados pela Maçonaria. Eram eles: os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira; os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Veiga e, Lucas Dantas do Amorim Torres.
Sendo ou não os líderes, foram enforcados e esquartejados. Os outros 29 presos foram absolvidos ou exilados.
Contam que o comandante de um navio francês havia descarregado e distribuído uns ‘livrinhos’ que ensinavam a fazer sublevações: “Instruídos na lição destes livrinhos, alguns pardinhos, e também branquinhos da plebe, conceberam o arrojado pensamento de fazerem com este meio, tão arriscado, passando, quero dizer, de pobres a ricos, de pequenos a grandes, de vis e baixos a estimados, e finalmente de servos, pois muitos dos pardos eram cativos, a Senhor.” (Texto anônimo de 1798, atribuído a um Frei)
Esses ‘livrinhos’, segundo esta versão, estimulava o combate às ideias católicas de submissão e caridade. Negaria os Dez Mandamentos e o Dogma da Eucaristia e propunha atos de violência e desrespeito com as procissões e as imagens dos Santos.