As pretensões da pobreza, de Thomas Carew
“Miserável pobre diabo, és por demais presumido
Ao reivindicares um lugar no céu, na altura,
Só porque tua humilde choça, ou tua tina,
Acalenta alguma virtude indolente ou farisaica
Sob o sol barato ou pelas fontes sombrias
Com raízes e hortaliças; onde tua mão direita,
Arrancando as paixões humanas da cabeça,
Em cujos troncos florescem formosas virtudes,
Degrada a natureza e entorpece os sentidos,
E, mão de Górgona, petrifica homens ativos.
Ó pobres, não precisamos da enfadonha companhia
De vossa compulsória abstinência
Ou da desnaturada estupidez
Que desconhece alegria ou tristeza, nem da forçada
E passiva fortaleza, falsamente exaltada
Como superior à ativa. Essa raça baixa e abjeta
Que se aboleta na mediocridade
Convém a espíritos servis; nós, porém, promovemos
Apenas as virtudes que admitem excessos
Atos bravos e generosos, magnificência régia,
Prudência previdente, magnanimidade
Que não conhece limite, e aquela virtude heroica
Que a antiguidade não batizou de, nenhum nome,
Mas deixou modelos como Hércules,
Aquiles e Teseu … Volta, ó pobre, à tua odiosa cela,
E quando vires a nova e ilustrada esfera
Procura ao menos saber quem eram esses heróis.”
A pobreza não pode ‘dignificada’; isso só legitimaria os que dela se beneficiam e aos ‘religiosos’, que são arautos da ‘natural’ e providencial distribuição da riqueza. Pobreza, aliás, não pode ser confundida com ‘simplicidade’.
“Se fôssemos de fato restaurar o gênero humano por meios genuinamente indígenas, botânicos, magnéticos ou naturais, caberia, em primeiro lugar, sermos simples e bons como a Natureza, dissiparmos as nuvens que pendem sobre as frontes e enchermos com um pouco de vida os poros. Não vos limiteis a ser provedores de pobres, mas tentai tornar-vos as próprias riquezas do mundo.” (Henry Thoreau)