
“Ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer”, dizia Maria Rita Kehl, em 2004.
O ressentimento é uma das ‘paixões tristes’, conforme Espinoza. A raiz da palavra “paixão” nos remete a páthos – a mesma origem de “patologia”. As paixões tristes, para Espinoza, são aquelas que diminuem a potência de agir do indivíduo.
Quero entender o “luto oficial” que reina em Brasília.
“… ao deparar com sua infelicidade (ou, no mínimo, com a mediocridade de sua vida), o ressentido há de tentar culpar alguém. Esse é o recurso do ressentido para não ter que avaliar suas escolhas, e depois se arrepender. O arrependimento dói, mas pelo menos revela algum tipo de questionamento. O ressentido, ao contrário, não se arrepende nem se questiona.” (Maria Rita Kehl)
Nosso presidente e seus seguidores, são arautos da ‘liberdade’. Mas, liberdade para eles é a que falava Espinoza: “consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam.”
Os cordéis distantes estão sendo rompidos. Os de Virgínia, porque já não são mais necessários. Os de Washington, porque a democracia mostra que está viva.
Shakespeare, em Ricardo II, conta o drama de quem perde o poder. Com a coroa já perdida e a prisão cada vez mais perto, o rei explica a distinção entre emoção e sentimento.
Pede que lhe tragam um espelho e confronta no seu rosto o espetáculo do declínio. Diz que o seu rosto exprime “as sombras do pesar que ninguém vê, que se avoluma em silêncio na alma torturada”.
Isso pode explicar, também, um certo silêncio. Este silêncio corrobora a política negacionista vigente.