“A Amazônia já era!”

Quatro Cinco Um: a revista dos livros - Ditadura celebrou a destruição da  floresta em campanhas

Nos anos 70, a ditadura militar anunciava nas principais revistas da época que o “Inferno Verde” seria integrado. O inferno era a Amazônia.

Para garantir a ‘segurança nacional’ – o mantra que tudo justificaria – a região precisava ser ocupada (antes, naturalmente, desmatada e seus ocupantes originais cederiam espaço aos novos desbravadores). Era necessário “proteger o vazio demográfico”. Terra ‘desocupada’ significa um risco; como se cidades não pudessem ser tomadas ou ocupadas.

Além de ‘proteger’ a nação, as terras precisariam ser destinadas à produção de alimentos. O país não precisaria de florestas, com seus bichos, insetos, doenças. Nossa vocação é alimentar o mundo. Essa era a visão dos militares no poder. E ainda é, entre muitos.

A revista Realidade, de outubro de 1971, traz uma ‘reportagem’ ufanista: “As patas do boi estão abrindo 280 fazendas na Amazônia: uma área duas vezes a da Áustria”.

“Metade da população do mundo passa fome, está prevista uma grande escassez de alimentos para as próximas décadas. A região amazônica está fadada a ser o grande centro exportador de carne do mundo”, falava um grande produtor de carnes.

O contraponto sensato vem através de Clara Pandolfo, então diretora da Sudam: “A agropecuária intensiva poderá conduzir à devastação do patrimônio florestal da Amazônia, do mesmo modo que os ciclos econômicos da cana-de-açúcar e do café respondem pela destruição das florestas do Nordeste e do Sul.”

“A Amazônia segue ocupando os ‘fundos do Brasil’ e ainda não teve o mesmo destino da Mata Atlântica e do Cerrado por uma questão de tempo, e também por causa da dimensão e da distância da floresta dos grandes centros. Mas sabemos que ela segue em direção ao destino dos outros biomas, a despeito dos esforços de setores da sociedade e de legislações protetoras. 

A Mata Atlântica demorou séculos para chegar aos críticos 12,5% de remanescentes da área original. Já na Amazônia, que em 1980 apresentava apenas 1,6% de áreas desmatadas, o desmatamento saltou em quarenta anos para 20% do total do bioma. Esse índice não considera os trechos degradados por situações como exploração madeireira, o que pode levar a números bem piores.” (Ricardo Cardim)

Naqueles anos, a Amazônia era anunciada como um “pote de ouro”, à espera dos novos conquistadores: “Chega de lendas, vamos faturar”; “Há um tesouro à sua espera. Aproveite. Fature. Enriqueça junto com o Brasil”;  “A Amazônia convida para um bom negócio”; “Prospere com a Amazônia”.

Essa campanha levou a delírios, como a fazenda-modelo da Volkswagen no sul do Pará, com 140 mil hectares e autorização para desmatar metade da área; e o Projeto Jari, maior propriedade individual no mundo, com área de 1,2  a 6 milhões de hectares.

Os militares pensavam que estávamos atrasados em relação aos países ricos, europeus e EUA, que correram e derrubaram suas florestas e puseram os indígenas remanescentes no seu lugar, as reservas inóspitas.

Essa era a tese de Frederick Turner (1861-1932), pai dos ‘historiadores da fronteira’. Para ele, “os norte-americanos marcham triunfalmente em direção à ‘conquista‘ de todo o continente, justificada pelo seu amor à democracia e por sua devoção ao progresso material e mental dos homens.”

“A História se repete. Esta é das coisas erradas com ela”. (Clarence Darrow)

Sigo Gandhi: “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.”

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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