Somos únicos, porque múltiplos

Book Johnnetta Cole for Speaking, Events and Appearances | APB Speakers
(Johnnetta Cole)

Oscar Wilde dizia: “A maioria das pessoas são outras pessoas.”

Completava: “Seus pensamentos são as opiniões de outras pessoas, suas vidas, uma imitação, suas paixões, uma citação.”

Por essas e outras, há um ‘esforço’ generalizado para nos enquadrar em determinadas ‘identidades‘. Essas identidades já foram as nacionalidades ou nossas classes sociais. Ultimamente, tende a nos enxergar conforme nossa religião ou ‘civilização’ (ocidental ou, bárbara). Esse movimento de nos rotular nesses grupos é liderado pela ‘nova’ direita.

Os da esquerda nos vêem mais segmentados, em grupos identitários, raciais, de gênero (em seus vários desdobramentos) etc.

O homem sempre adotou, diante do universo real, uma certa reserva a fim de explicá-lo e transformá-lo. Enquanto o animal não deixa jamais de estar presente no universo, o homem, às vezes, se afasta dele a fim de re-presentá-lo e dominá-lo.” (Denis Huisman e André Vergez)  

Para o pessoal de marketing de consumo, a segmentação é ‘essencial’ para identificação de ‘públicos-alvo’. Com as bases de dados propiciadas pelas redes sociais chegaram ao êxtase. Para os que atuam na política, também.

O mundo não é ‘dividido‘, é ‘plural‘.  Cada um de nós, individualmente, somos adeptos de várias ‘facções’ de crenças, gostos ou hábitos. Somos ‘múltiplos’. Não nos reduzam a grupos ou tipos, singulares e abrangentes. Não somos ‘compartimentáveis‘.

“Em nossas vidas normais, vemos-nos como membros de uma variedade de grupos – pertencemos a todos eles. A mesma pessoa pode ser, sem qualquer contradição, um cidadão norte-americano, de origem caribenha, com antepassados africanos, cristão, liberal, mulher, vegetariano, corredor de longa distância, professor, romancista, feminista, heterossexual, defensor dos direitos dos gays e lésbicas, amante do teatro, ativista ambientalista, um entusiasta do tênis, jazzista e alguém totalmente convencido de que existem seres inteligentes no espaço cósmico com os quais é de extrema urgência nos comunicarmos.” (Amartya Sen)

A necessidade de aceitarmos uma identidade única é do interesse das confrontações sectárias, polarizadas. Atende aos manipuladores de rebanhos. Somos iguais apenas em termos de suposta ‘humanidade’. Carregamos e expressamos a ‘diversidade‘ do mundo.

Uma necessária ‘harmonia’ só virá a partir do reconhecimento dessa pluralidade da identidade humana e de sua interconexão.

“Quando usamos a palavra identidade, penso que normalmente achamos que estamos comunicando a seguinte ideia: identidade é quem eu sou.

Mas devo dizer que, como uma antropóloga, diretora de museu, e como ser humano, eu tenho problemas em aceitar identidade como um termo no singular. 

Eu acho que esse nosso mundo seria muitíssimo melhor se nós pensássemos e interagíssemos uns com os outros em termos das nossas múltiplas identidades.

Pense no que está acontecendo no mundo, toda essa polarização, esse insistência de que algumas pessoas não deveriam estar aqui, que outras não são boas o suficiente para estarem lá.

Então nós estamos caracterizando as pessoas usando o singular. Ele é um negro. Ela é uma muçulmana. Só que todos nós, embora tenhamos uma identidade primária, aquela que pensamos sobre nós mesmos mais frequentemente ou com mais força, somos uma soma de várias identidades. (Johnnetta Cole)

“E aqui estamos como numa planície ameaçadora

Varridos por confusos alarmes de combate e fuga,

Onde exércitos ignorantes chocam-se à noite.” (Matthew Arnold)

                   

“Passa uma borboleta por diante de mim

E pela primeira vez no Universo eu reparo

Que as borboletas não têm cor nem movimento,

Assim como as flores não têm perfume nem cor.

A cor é que tem cor nas asas da borboleta,

No movimento da borboleta o movimento é que se move.

O perfume é que tem perfume no perfume da flor.

A borboleta é apenas borboleta

E a flor é apenas flor.” (Alberto Caeiro)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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