
João de Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), pernambucano: a ele deve-se o mérito do pioneirismo nos estudos sobre ecologia (concomitantemente com Lutzenberger) e desertificação no Brasil. É considerado uma das maiores autoridades em ecologia da América Latina.
Foi um dos fundadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (onde criou a disciplina “Ecologia Conservacionista”), do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, do Jardim Botânico do Recife, da Estação Ecológica de Tapacurá e da Associação Pernambucana de Defesa do Ambiente. Um idealista, porém realizador.
Sobre ecologia, alertava, nos anos 1970, sobre a ameaça dos ataques do homem aos recursos naturais, o que – enfatizava – colocava em risco o futuro da humanidade. Eu era adolescente, curioso, e me assustava com suas palestras. Os ‘influentes’ ignoravam, desde então.
Coube a ele a ‘redescoberta’ do pau-brasil, espécie considerada extinta. Começou seu plantio na reserva Tapacurá, que criara: a primeira Estação Ecológica do Brasil. Depois o pau-brasil tornou-se a Árvore Nacional.
Com relação ao processo de ‘desertificação’, foi o primeiro cientista brasileiro a denunciar o problema, embora as primeiras referências às estiagens tenham sido feitas por Fernão Cardim em 1587.
Com a grande seca de 1877, o governo passou a considerá-las como um problema nacional. Naquele ano, a estiagem que havia se instalado no Nordeste, resultou na morte de milhares de nordestinos e geraram as primeiras iniciativas oficiais de combate aos ‘efeitos’ da seca. Até hoje.
“Movido por essa grande tragédia, o imperador D. Pedro II criou uma Comissão de Inquérito cuja recomendação principal era de melhoria dos meios de transporte e a construção de uma série de açudes.
Um dos três açudes recomendados era o do Cedro, em Quixadá, cuja obra foi iniciada em 1884 e concluída em 1902, 22 anos depois, tendo sido interrompida muitas vezes. Para muitos brasileiros , o açude tornou-se um símbolo da ineficiência e do desperdício na luta contra a seca. “(S. H. Robock)
Vasconcelos, ao instituir a disciplina “Desertologia”, antecipou a ideia de interdisciplinaridade, hoje comum no estudo ambiental. Propôs não o estudo dos desertos, mas uma abordagem integrada dos elementos acarretadores da degradação dos solos, da flora e dos recursos hídricos e suas conseqüências, levando em consideração fatores ambientais, culturais e socioeconômicos.
Eis os seus “Dez mandamentos da Ecologia”:
- Ama a Deus sobre todas as coisas e a Natureza como a ti mesmo.
- Não defenderás a Natureza em vão, apenas com palavras, mas através de teus atos.
- Guardarás as florestas virgens, pois tua vida depende delas.
- Honrarás a fauna, a flora, todas as formas de vida, e não apenas a humana.
- Não matarás.
- Não pecarás contra a pureza do ar deixando que a indústria suje o que a criança respira.
- Não furtarás da terra sua camada de húmus, raspando-a com o trator, condenando o solo à esterilidade.
- Não levantarás falso testemunho dizendo que o lucro e o progresso justificam teus crimes.
- Não desejarás para teu proveito que as fontes e os rios se envenenem com o lixo industrial.
- Não cobiçarás objetos e adornos para cuja fabricação é preciso destruir a paisagem: a terra também pertence aos que ainda estão por nascer.