
Guerreiro Ramos (1915-1982), era um intelectual negro, defensor da soberania nacional. Preocupava-se com o que chamava de ‘redução sociológica’, procurando afastar-se de uma ‘sociologia importada’, com métodos e visões concebidos noutros contextos culturais. Para ele, a pretensa universalidade da sociologia seria, na verdade, a reafirmação de uma lógica colonial que impediria os povos periféricos de tomar “consciência de si”. Afirmava que a “sociologia era a ciência dos oprimidos”.
Tenho uma admiração por um sociólogo que foi meu professor, José Rafael de Menezes, que também pregava a independência no pensar.
A questão racial era, também, um de seus temas. Achava que “a situação do negro não era circunstancial, excepcional, mas parte inextrincável do subdesenvolvimento e das dificuldades de integração nacional”, nas palavras de Sílvio Almeida.
O racismo seria uma “patologia social do branco brasileiro” que se expressa no ódio ao negro e à cultura popular.
Era, também, um pensador sobre a gestão pública. Acreditava que a boa administração pública é aquela pensada a partir dos desafios nacionais e não aquela feita a partir de abstrações teóricas de pós-graduados.
Projetos de “reforma do Estado” serviriam, antes de tudo, para criar privilégios e impedir o país de resolver seus problemas históricos: entreguismo e destruição do Estado brasileiro.
Bom, ele era nacionalista e defensor do papel do Estado. Era outra época, outros climas. Não sou ‘nacionalista’, sou universalista, porém não ingênuo a ponto de desaconselhar o estímulo aos destinos nacionais. O governo pode perfeitamente sinalizar e pavimentar caminhos que facilitem o desenvolvimento autóctone, porém conectado. Minha opinião não importa. Quero resgatar o papel cívico de Guerreiro Ramos.
Nesse sentido, suas ideias influenciaram intelectuais e pensadores de todo o mundo, na sociologia e na política.
Pregava a “conscientização” como elemento civilizador e edificante da nação. Esse conceito foi capturado por Paulo Freire:
“Acredita-se geralmente que sou o autor deste estranho vocábulo “conscientização” por ser este o conceito central de minhas ideias sobre a educação. Na realidade, foi criado por uma equipe de professores, por volta de 1964. Pode se citar entre eles o filósofo Álvaro Vieira Pinto e o professor Guerreiro. Ao ouvir pela primeira vez a palavra conscientização, percebi imediatamente a profundidade de seu significado, porque estou absolutamente convencido de que a educação, como prática da liberdade, é um ato de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade.
Guerreiro, propunha um novo modelo de homem, parentético, centrado na autorrealização, na atuação plena de suas potencialidades, com atitude parentética e capaz de atuar integralmente na sustentabilidade.
Homem parentético é aquele que examina a vida social como um espectador, que busca abster-se de juízos, separando-se de circunstâncias internas e externas, a fim de compreender seu meio social.Esse homem concentra-se na autorrealização, no desenvolvimento pleno de suas capacidades, que tem capacidade de abster-se das influências da racionalidade instrumental do mercado, que predomina sobre as relações homem × organização.” (Adilson de Almeida)