
Há os que vêem a vida como uma sucessão de eventos determinísticos, isto é, uma série de efeitos gerados por causas específicas.
Esta ideia, originada na física clássica, newtoniana, sugere que podemos entender o mundo a partir das leis que regem cada sistema. Conhecendo-se tais leis, expressas em equações, seria possível ‘prever’ (projetar) o estado desses sistemas em qualquer momento no futuro.
É uma visão ‘reducionista’, já que supõe que o conhecimento das partes individuais de um sistema leva ao conhecimento do sistema como um todo.
Entretanto, isso se aplica a sistemas fechados. Na vida em geral, esquece; não funciona assim. Não há linhas retas na vida; nada – podemos dizer – é linear.
Os sistemas, em suas interações, podem exibir propriedades ‘emergentes’. Ou seja, a soma das partes já não corresponde ao todo.
Estamos falando de ‘sistemas dinâmicos complexos’.
As economias, por exemplo, se comportam de forma irracional e não linear, e muitas vezes violentamente, características de propriedades emergentes decorrentes das atuações dos agentes econômicos.
“A teoria econômica tradicional assume que economias são sistemas lineares preenchidos com atores racionais que procuram otimizar a sua situação. As saídas refletem a soma das entradas, o sistema é fechado, e se uma grande mudança acontece, ela acontece como um choque externo. O estado padrão do sistema é o equilíbrio. A metáfora dominante é a máquina”, resume Eric Liu.
Os liberais querem assumir o ‘equilíbrio’; alegam que o mercado se autorregula. Trabalham com a hipótese do ‘mercado eficiente’ (‘os mercados são perfeitamente eficientes e por isso se autocorrigem’). Uma fábula, considerando-se que o mercado age como um animal descontrolável.
A economia é um sistema evolutivo e dinâmico; ele não se comporta educadamente em busca do crescimento equilibrado e estável. Aliás, o equilíbrio é a morte, o fim da sua evolução. Ao contrário, “para se adaptar e evoluir, o sistema deve estar à margem do caos, o ponto onde é mais criativo, flexível e ágil, sem perder sua estrutura”. (Ilan Gleiser)
A economia pode, também, ser vista como um sistema de processamento de sinais, além do tradicional enfoque centrado em produção e distribuição. As sinalizações constituem o vento transformador, para melhor ou pior. Como todo sistema dinâmico, os ‘loops de feedback’, ou ‘reflexividade’ agem como reorientadores dos fluxos. Essa rede invisível de expectativas humanas se torna, numa espiral sempre crescente, tanto causa quanto efeito de circunstâncias externas.
A produção é um fenômeno social, portanto deve haver um jeito de organizar e distribuir esta produção. Há vários, do comunismo ao liberalismo radical. Aí entram os agentes reguladores (Estado, agências ou o próprio mercado) e a questão da propriedade dos meios. Não vamos discutir isso.
Quero ressaltar apenas que o processo de acumulação tende ao de concentração e, deixados por sua conta, leva a uma desigualdade extrema. Isto é ruim para todos.
Nas últimas décadas houve uma consolidação e concentração de ganho de poder e riqueza sem precedentes em vários países, principalmente nos mais liberais. Desigualdade radical e desarticulação econômica estão conectadas: uma traz e amplifica a outra.
Na opinião de Eric Liu e Nick Hanauer, ao contrário do que pregam os defensores do ‘laissez-faire’, devemos entender a economia como segue:
- O mercado está geralmente errado.
- Os mercados distribuem bens, serviços, e benefícios de formas geralmente irracionais, quase cega, e muito dependente de sorte.
- Os resultados do mercado não são necessariamente morais – e algumas vezes são imorais – porque eles refletem uma combinação dinâmica de merecido mérito e um composto de vantagem ou desvantagem não merecido.
- Se bem direcionados, os mercados produzem grandes resultados, mas se não, eles destroem a si mesmos.
- Mercados, como jardins, necessitam ser semeados, alimentados, e podados constantemente pelo governo e os cidadãos.
- Mais, eles requerem julgamentos sobre qual tipo de crescimento é benéfico. Só por que dentes-de-leão, como fundos de hedge, crescem facilmente e rapidamente, isso não significa que nós devemos deixa-los tomar conta. Só por que você pode fazer dinheiro fazendo algo não significa que isso seja bom para a sociedade.
- Em uma democracia nós não temos somente a habilidade, mas também a obrigação de dar forma aos mercados – através de escolhas morais e ação governamental – para criar resultados bons para nossas comunidades.