
Para Espinoza, Deus não criou o mundo nem está fora do mundo: ele é o próprio universo. Por isso, dizia “Deus sive Natura” (Deus ou Natureza). Deus seria imanente, está inseparavelmente contido e implicado em toda a realidade.
A ideia de um Deus raivoso, que precisava ser cultuado e agradado, seria uma superstição. Essa imagem de Deus era conveniente para a Igreja, que podia prometer o perdão e, desta forma, ganhar poder. Ou seja, a superstição ajudaria a criar regimes autoritários baseados na religião.
Por ideias como essa, recebeu o ‘chérem’ (espécie de excomunhão judaica), em 1656.
Ele assinava com um desenho com suas iniciais, uma rosa com caule e a palavra “Caute“, ou seja, ‘com cuidado’. Seu nome tinha conotação de rosa (‘espina’, em espanhol, significa ‘espinho’). Ele tinha muitas visões a oferecer, mas cuidado com os espinhos!
Ele negava muitas coisas consideradas necessárias para uma vida ‘tranquila’: o livre-arbítrio, a distinção tradicional entre o bem e o mal, céu e inferno, e a existência de um criador benevolente, entre outras.
Sua independência de pensamento se assemelha à de Sebastian Castellion (1515-1563), um calvinista que rejeitou Calvino. Quando os calvinistas executaram Miguel Servet, em 1553, escreveu: “Matar um homem não é defender uma doutrina, é matar um homem. Não se prova a sua fé queimando um homem, como fazendo-se queimar para ela. Buscar e dizer a verdade, tal e como se pensa, não pode ser nunca um delito. Nada se deve obrigar a crer. A consciência é livre“.
Para Espinoza, a mente tem três níveis: a) ‘imaginação’, que inclui sensações e imagens mentais; o mais inferior; b) ‘cognição’ ou ‘razão’, a partir do qual temos noções apropriadas das propriedades das coisas; c) ‘conhecimento intuitivo’, que perscruta a essência das coisas.
Alguns concluem que, até ‘coisas’, que não têm ‘senciência‘, teriam ‘mentes’ com o nível baixo (‘imaginação’) que percebem tudo o que acontece com seus ‘corpos’. Uma torradeira, por exemplo, perceberia o fluxo de eletricidade em seus elementos de aquecimento.
“A ideia de qualquer modo em que o Corpo humano é afetado por corpos externos deve envolver a natureza do Corpo humano e ao mesmo tempo a natureza do corpo externo.
Os homens acreditam que são livres pelo fato de terem consciência de suas próprias ações e por serem ignorantes acerca das causas pelas quais elas são determinadas.
O desejo geralmente está relacionado aos homens até o ponto em que eles têm consciência de suas vontades, para que assim o desejo possa ser definido como ‘vontade com a consciência da vontade'”